top of page

Ténue...

 

Ténue, a esperança

Que envolve os meus dias!

Como posso eu querer tanto

Alguém que, nesta dança,

Minha vida levou para longe?

 

Carla Teixeira

20 de Junho de 1995

 

Quem és tu?

 

Quem és tu,

Luz da Alvorada

Que tarde me libertas

Do escuro obscurantismo?

 

Quem sou eu,

Morcego alado,

Que do brilho ofuscado

procuro em vão libertar-me?

 

Quem somos nós,

Seres tão irreais,

Tão diversos, mas tão comuns?

Somos nós. Somos amantes.

E é por isso que somos felizes!

 

Carla Teixeira

14 de Outubro de 1995

 

Avó Gracinda

 

Teu olhar era a esperança

E teu pensar a ingenuidade,

Tinhas coração de criança:

Grande e cheio de verdade!

 

Uma flor que Deus criou

E plantou neste mundo, 

Alma pura, casta e boa,

De olhar meigo e profundo...

 

Graça linda, jóia rara,

Que a dor parecia ter esquecido...

Longe, é tanta a saudade!

Como choro por teres partido!

 

Foste bela, foste santa.

Dizê-lo não é sacrilégio. 

Amo-te, e ter sido tua neta

Foi um orgulho, um privilégio.

 

Carla Teixeira

4 de Janeiro de 1996

 

Poema à Mãe

 

Acordei.

O dia estava clareando. Tu,

A meu lado, com ternura,

Ias a alegria em mim despertando.

Acordas sempre sorrindo,

Como se todo o mundo fosse teu.

Esqueces que é bem pequeno,

E que acima dele há apenas céu!

Vives no olhar com a alegria

De alguém que viveu sem sofrer...

Negligente do teu real desalento,

Teu sorriso é suave enternecer.

Sabes o que queres e crês,

Tudo em ti é força, vontade...

Tudo o que tens, e mais, o mereceste:

Saúde, alegria e amor.

Admiro-te, e admirar

- Nunca esqueças - é amar!

Deste-me a vida, a felicidade

Que eu te devolveria

Se bastasse apenas desejar.

Rio e brinco com os amigos,

Na sua companhia estou bem.

Mas nunca em meu coração haverá

Outra a quem chame Mãe!

 

Carla Teixeira

2 de Maio de 1995

 

Triste...

 

Triste, amigo, é viver só.

É chamar alto e ninguém responder.

É gritar ao mundo a dor num silêncio,

Rezar preces diabólicas, sofrer!

É chorar lágrimas já enxutas,

Chover sobre a chuva derramada,

É nunca trazer nada de novo

E viver, tendo a alma condenada.

 

Triste, amigo, é não ter ninguém.

Não ter um nome para gritar.

É ferir-se e magoar sempre alguém

Com a dor que acaba por matar!

Triste é viver alegrias emprestadas,

Momentos que a outros devem pertencer.

É não ter alguém a quem sorrir,

Não ter sequer motivos para o fazer...

 

Triste é, enfim, ser como eu:

Pobre e só, por todos abandonado!

É recordar, num desalento crescente,

Um infeliz, mísero passado.

É sofrer tormentos que não entendo,

Falar sem nunca ser ouvido,

Escrever mensagens como esta,

Perdida num papel encardido...

 

Carla Teixeira

23 de Julho de 1995

 

Avô Claudino

 

Avô, que tão cedo partiste,

Sei que brilhas no céu

E que és a estrela mais bela.

Vejo-te quando, da minha janela,

Olho o luar de diamante...

Chorei e sofri quando soube

Da tua tão precoce partida:

Embarcaste rumo ao céu,

Tão rápido, furtaste-te à despedida!

Tão cruel é a morte, e tão mundana,

Que Deus pecou, ao roubar-te

E ao dar-te ordem de partida.

Esqueceu-se de que te foste

Apenas com bilhete de ida!

Para mim estarás sempre vivo,

E no céu, alerta, a brilhar.

A ver tua terra perdida

E sem esperança de voltar.

És um anjo que me guia e guarda

A imensa saudade que meu peito alberga!

 

Carla Teixeira

26 de Dezembro de 1995

Lágrimas

 

Num dia triste e cinzento partiste.

À janela solto uma lágrima de prata

Solitária, cinzenta, infeliz,

Cheia de saudade, vazia de ti!

Um amor que parte, uma flor

Que murcha, mirrada e sequiosa

Do teu sorriso, do teu olhar,

Do teu amor, do teu beijar...

Volta e enxuga as minhas lágrimas!

Seca a fonte do meu sofrimento.

Vem, e faz reviver as flores,

Ensolarar os dias cinzentos!

Vem, porque tu és o amor,

E o amor é tudo na vida...

 

Carla Teixeira

24 de Fevereiro de 1995

 

A flor amarela

 

Vi uma flor amarela,

Triste e só num descampado.

Triste por não ser amada,

Triste por não ter um amado...

Essa flor amarela sofria

O tormento de não saber

Se não sabia amar

Ou se não amava por não querer...

 

Carla Teixeira

4 de Setembro de 1995

 

Amor, totalidade...

 

Amor, totalidade...

Sentimento vago,

Incerto, feliz.

Dependência física,

Mental!

Corpos colados, trocados,

Beijos eternos beijados...

Amor, estranha força

Que dá vida

E alegra os dias tristes...

 

 

Carla Teixeira

27 de Junho de 1995

Amar

 

Amar é pintar num doce sonho

As cores da realidade.

É sonhar, e sempre contigo,

Sonhar em ter-te de verdade.

Em ter-te sempre inteiro,

Ter-te sempre só para mim,

Mostrar-te a força e o eterno

De um amor que não tem fim!

 

Carla Teixeira

5 de Abril de 1995

 

Madrugada

 

Madrugada...

Gritos no escuro silêncio.

Noite no coração.

Alvorada de segredos...

Amor, eterna busca,

Pura, negra procissão,

Lágrimas, queixas, suspiros,

Gemidos, suor, volúpia e paixão!

Amor, esperança de regresso,

Glória de um coração...

 

Carla Teixeira

27 de Junho de 1995

 

Solidão

 

Invade meu coração, minha alma,

No momento em que, tremendo,

Fecho a janela do quarto

Contigo em meu pensamento.

Invade o meu olhar triste,

Nostálgico e sereno,

Quanto te vejo ignorar

Nosso passado tão pleno!

Invade todo o meu ser esta dor

A que alguns chamam solidão.

És carrasco do meu viver.

És saudade, tortura e paixão!

 

Carla Teixeira

23 de Agosto de 1995

 

Terreno baldio

 

Ò solidão de minh'alma,

Que tristes dias passamos!

Na cama fria, sem ele, 

O triste infeliz que amamos.

Triste, infeliz, desgraçado,

Um pobre, ingrato e vadio que,

Confuso e com medo de amar,

Fez de seu coração um baldio...

Fechou-me seu coração,

Jamais o abriu a alguém.

Recusou aceitar meu amor,

Minha vida lhe dei também!

Daria tudo o que ele quisesse,

Se ele me quisesse, a mim.

Ensiná-lo-ia a amar

No mar, na lua ou num jardim...

Meu coração chora só,

A triste hora em que parti,

Trazendo a dor, o desalento

E a tristeza de estar sem ti!

 

Carla Teixeira

3 de Setembro de 1995

 

bottom of page