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REPORTAGEM PUBLICADA NO JORNAL «O PRIMEIRO DE JANEIRO» EM OUTUBRO DE 2007

QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS NOS HOSPITAIS

"Saúde portuguesa em estado crítico"

 

Longas listas de espera, risco de infecções, erros na prescrição e na administração de fármacos, serviços caros e pouco eficientes e má qualidade da comida oferecida aos pacientes são os principais sintomas de que a prestação de cuidados de saúde em Portugal está doente…

 

CARLA TEIXEIRA

 

A notícia do encerramento, pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, das cantinas de três hospitais do Serviço Nacional de Saúde – Santa Maria e Dona Estefânia, em Lisboa, e Santo André, em Leiria – veio relançar o tema da qualidade dos serviços prestados naquelas unidades. O diagnóstico, que não se esgota numa simples análise aos alimentos que são servidos aos pacientes e às instalações em que são confeccionados, abrangendo também aspectos como o índice de infecções hospitalares, os erros cometidos pelos profissionais de saúde e as demoras até que uma consulta médica passe do papel à prática, não é animador, como depreendeu, há cerca de dois anos, uma equipa técnica da DECO liderada por Dulce Ricardo, que visitou 21 hospitais públicos e privados portugueses.

De acordo com o que O PRIMEIRO DE JANEIRO conseguiu apurar junto de fontes do sector sanitário nacional e daquela associação de defesa do consumidor, aquele estudo, publicado na 263ª edição da revista «Proteste», dada à estampa no mês de Novembro de 2005, divulga os dados mais recentes relativamente à qualidade dos serviços prestados pelas cantinas dos hospitais portugueses, e integra um conjunto de artigos divulgados naquela e noutras publicações da DECO. Em Setembro do mesmo ano a revista «Dinheiro & Direitos» dava a conhecer uma investigação que atestava a existência de “listas de espera intermináveis, informação escassa e uma prestação de serviços cara e pouco eficiente”.

O estudo referia que, “quando os profissionais de saúde falham, as consequências para os utentes podem ser graves”, incluindo a morte, que de acordo com a mesma fonte atinge anualmente milhares de pessoas nos hospitais portugueses. Depois da comida e do preço dos tratamentos, na edição nº265 da revista «Teste Saúde» era abordada a questão do ambiente hospitalar, com os técnicos da DECO a aferir que “mais de metade dos hospitais apresentava quantidades de microrganismos acima do limite admitido pela Organização Mundial de Saúde”, que em Outubro de 2004 implementou a Aliança Mundial para a Segurança do Doente, exortando os países-membros a “prestar toda a atenção possível” ao problema.

NÚMEROS

ERROS E ACIDENTES

 

Os últimos dados divulgados pela Autoridade Nacional do Medicamento e dos Produtos de Saúde (Infarmed) apontam para uma prevalência de sete mil mortes anuais devidas a erros relacionados com a utilização de fármacos em ambiente hospitalar, e de 20 mil mortes por ano associadas a outros erros médicos. Ainda mais gravosas são as consequências das reacções adversas, que anualmente matam 106 mil doentes, e que em três quartos dos casos são evitáveis. A Ordem dos Farmacêuticos salienta a necessidade de promover programas de gestão do risco, que devem envolver hospitais, companhias farmacêuticas, distribuidoras e profissionais de saúde.

SEGURANÇA DOS DOENTES

DEZ FACTOS COMPROVADOS

 

1) A questão da segurança dos doentes durante o seu internamento nos hospitais constitui um sério problema de saúde pública em todo o mundo. Nos últimos anos vários países reconheceram a importância da melhoria daquele indicador, depois de, em 2002, os países-membros da Organização Mundial de Saúde terem estabelecido uma resolução nesse sentido, no âmbito da Assembleia Mundial da Saúde.

 

2) As mais recentes estimativas demonstram que nos países desenvolvidos um em cada 10 doentes é alvo de um qualquer problema assistencial durante o tempo em que permanece hospitalizado. Na origem desses problemas poderá estar um vasto leque de erros dos profissionais de saúde ou os efeitos adversos da medicação.

 

3) Nos países em desenvolvimento a probabilidade de os pacientes sofrerem danos durante a sua hospitalização é maior do que nos países industrializados. Em alguns dos estados mais pobres, o risco de contrair infecções hospitalares chega a ser 20 vezes mais elevado do que nos países ricos.

 

4) Mais de 1,4 milhões de pessoas sofrem infecções hospitalares anualmente em todo o mundo. A simples lavagem das mãos é uma medida essencial para reduzir a incidência das infecções contraídas em ambiente hospitalar e o desenvolvimento da resistência aos micróbios.

 

5) Pelo menos 50 por cento do equipamento médico disponível nos hospitais dos países desenvolvidos não é usado, ou só é usado parcialmente. Essa incapacidade de utilização resulta da falta de condições ou de know-how adequado do pessoal. Na sequência da inépcia demonstrada, muitos dos procedimentos ou tratamentos não podem ser realizados, o que muitas vezes tem como efeito directo diagnósticos errados ou incompletos, ou a administração de tratamentos que poderão ameaçar a segurança dos pacientes, com risco de ferimentos graves ou mesmo de morte.

 

6) Em alguns países a proporção de injecções administradas com seringas ou agulhas reutilizadas sem as submeter a esterilização é superior a 70 por cento. Uma opção que expõe ao risco de infecções milhões de pessoas. Anualmente há 1,3 milhões de mortes à escala mundial associadas à reutilização de seringas e agulhas, que provocam a transmissão de doenças como as hepatites B e C e a sida.

 

7) Todos os anos, pelas mais diversas razões, mais de 100 milhões de pessoas requerem tratamento cirúrgico e são submetidas a uma intervenção. Os problemas associados àaquele procedimento contabilizam, nos países desenvolvidos, cerca de metade dos efeitos adversos evitáveis em ambiente hospitalar, que por vezes resultam na morte ou na incapacidade permanente do paciente.

 

8) Os benefícios económicos que poderão ser retirados da melhoria da segurança dos doentes nos hospitais são significativos, já que estudos relacionados com esta problemática atestam que os custos derivados do tempo adicional de internamento motivado pelas infecções, das infecções em si, dos processos que vão a tribunal e das despesas relacionadas com os diagnósticos de incapacidade permanente variam entre os seis e os 30 mil milhões de dólares.

 

9) Os sectores da indústria com mais elevados os riscos de acidentes susceptíveis de afectar a saúde dos seus trabalhadores revelam níveis de segurança superiores aos patentes nas entidades prestadoras de cuidados de saúde. A probabilidade de um viajante sofrer um ferimento num avião é de um num bilião, mas nos pacientes internados numa unidade hospitalar sobe para um em 300.

 

10) A salvaguarda da saúde dos pacientes hospitalizados é a alma da Aliança Mundial para a Segurança dos Doentes, movimento da OMS que trabalha para tornar a prestação de cuidados de saúde mais segura em todo o mundo.

 

Fonte: Organização Mundial de Saúde

PERITOS PRECONIZAM APOSTA NA QUALIDADE

DOS SERVIÇOS E NA SEGURANÇA DOS DOENTES

Evitar erros e acidentes

 

O director-geral de Saúde informou recentemente que sete por cento dos doentes internados nos hospitais contraem infecções devidas a erros médicos. Ao JANEIRO a especialista Margarida França explicou que os programas de gestão de riscos visam evitar esses erros.

 

CARLA TEIXEIRA

 

Margarida França desempenha actualmente o cargo de administradora hospitalar, é vogal do Conselho Directivo do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e membro da Agência Nacional de Investigação. Foi também directora-adjunta do Instituto Português da Qualidade em Saúde.

Especialista de renome, participou, no final de Setembro, numa conferência internacional realizada na cidade do Porto, em que, sob a égide da presidência portuguesa da União Europeia, quatro centenas de teóricos, académicos, decisores públicos e representantes de sistemas de saúde na UE, debateram o tema da «Segurança dos doentes – Investigação na prática», focalizando a discussão na problemática da “promoção e divulgação da acção e da investigação internacionais, o reforço do alargamento de um leque de iniciativas e a proposta, para a prática, de padrões baseados na evidência”.

Entre os muitos aspectos que estiveram em cima da mesa avultavam o objectivo da definição de prioridades na investigação, para reduzir a probabilidade da ocorrência de incidentes em ambiente hospitalar, a análise da eficácia dos sistemas nacionais de notificação, o papel da acção humana e do doente na prevenção ou na causa de eventos adversos, o controlo das infecções hospitalares e os métodos para garantir uma utilização mais correcta da medicação.

Tendo em conta que, quando recorre a um serviço de saúde, o doente pretende curar-se das patologias que o atormentam, e considerando os números avançados na véspera do encontro pelo director-geral de Saúde, Francisco George – segundo o qual sete por cento dos doentes que são internados contraem infecções hospitalares –, Margarida França enfatizou que “há programas de gestão do risco dirigidos especificamente para evitar e corrigir esses erros e incidentes”.

Salientando que em meios como os hospitais, em que “há tantas pessoas doentes”, é quase impossível driblar completamente os riscos de contágio de determinadas enfermidades, quer entre doentes, quer mesmo entre profissionais de saúde, com médicos, enfermeiros e auxiliares permanentemente sujeitos a diferentes perigos, Margarida França atesta que o papel desses programas de gestão de risco passa a ser o de “diminuir o impacto” dos riscos hospitalares que não podem, de todo, ser evitados. 

As conclusões da conferência, confidenciou a especialista, não poderão ser divulgadas para já, na medida em que essa divulgação pública caberá à DGS, que estará neste momento a compilar as informações reunidas e os contributos de todos os especialistas presentes.

Apesar do secretismo que envolve a conferência, dinamizada com apoio do Sexto Programa-Quadro para a Investigação da Comissão Europeia, O PRIMEIRO DE JANEIRO sabe que os cerca de 400 participantes na reunião convergiram na ideia de que a segurança dos doentes constitui motivo de grande preocupação no seio da União Europeia, designadamente depois de estudos recentes terem aferido que frequentemente, e em cada vez mais países, ocorrem, em pelo menos 10 por cento dos internamentos hospitalares, erros graves na prestação dos cuidados de saúde. 

De acordo com aqueles especialistas, melhorar os cuidados de saúde de todos os cidadãos do espaço comunitário, quer procurem tratamento no seu país de origem, quer recorram às unidades prestadoras de cuidados num país estrangeiro, “exige a colaboração de todos, a nível europeu”.A adopção de abordagens sistemáticas que permitam garantir maior segurança aos doentes contribuirá, afirmam os especialistas, para um reforço da qualidade global dos cuidados de saúde. 

Na reunião científica de Setembro no Porto concluíram que as áreas em que é mais premente a aposta na investigação são as áreas ligadas à questão das infecções associadas aos cuidados de saúde, os efeitos secundários dos medicamentos, os procedimentos de cirurgia e anestesia, o problema relativo à administração de injecções com agulhas e seringas contaminadas, os derivados do sangue inseguros e a inaptidão para o uso correcto dos equipamentos hospitalares.

CARLA TEIXEIRA

Falta de higiene encerrou cantinas de três hospitais

 

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica esclareceu na quinta-feira que a decisão de encerrar as cantinas de três hospitais portugueses, tomada dois dias antes, ficou a dever-se à falta de condições higio-sanitárias daquelas instalações. No âmbito de uma operação de fiscalização realizada a nível nacional, envolvendo 31 brigadas da ASAE, que inspeccionaram 75 unidades hospitalares, foi decidida a suspensão das cozinhas e o encerramento das cantinas dos hospitais de Santa Maria e Dona Estefânia, em Lisboa, e do Santo André, em Leiria, pelo que a ASAE define como “falta de condições higio-sanitárias, bem como um bar na região Norte, explorados por entidades externas aos hospitais”. Em comunicado, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica disse que “foram instaurados 48 processos de contra-ordenação, por falta de Sistema de Análise de Perigos e Controlo de Pontos Críticos”, bem como por “falta de requisitos gerais e específicos de higiene, falta de formação, falta do livro de reclamações, deficientes condições técnico-funcionais e congelação indevida”.

 

Cozinha fechada no Hospital de Abrantes

 

No seguimento da ronda de inspecções que nos últimos dias vem promovendo aos hospitais portugueses, a ASAE suspendeu na passada quinta-feira a actividade da cozinha do Hospital de Abrantes. O encerramento da cantina daquela unidade, que integra o Centro Hospitalar do Médio Tejo, juntamente com Tomar e Torres Novas, levou a que a partir de agora, segundo foi avançado numa circular assinada pelo vogal do Conselho de Administração do CHMT, Pedro Marques, “a partir desta data o fornecimento das refeições passe a ser assegurado, sem qualquer prejuízo para os utentes, pelo actual concessionário Cook Chill.

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