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Animais, porque sim!

 

Durante muito tempo vivi à margem dos que viviam fora de mim. Não por desprezo, por falta de empatia ou de amor por quem tinha à minha volta, mas talvez por "perder" demasiado tempo com os estudos, depois com o trabalho, sempre com uma enorme dedicação que me impedia de dispersar o interesse por outras áreas. Até que...

 

Um dia tudo mudou. Se na minha infância nunca fui uma daquelas crianças que se dava muito ao contacto com os animais (a minha irmã mais nova, por oposição, parecia ter nascido para cuidar de animais, tal era, desde tenra idade, o interesse que tinha por eles e a forma como abraçava e queria levar para casa todos os cães que encontrava, mesmo os que estavam doentes e infestados de pulgas), e durante muito tempo - mesmo muito, demasiado tempo - fui incapaz sequer de tocar neles, foi o Nero, um cão que salvámos do abate num canil em 1998, que mudou a minha relação com estes seres maravilhosos. E o tempo que perdi sem perceber como são fabulosos... 

 

O Nero tinha uma doença congénita, mas viveu connosco, saudável e feliz, durante 13 anos. Ao fim desse tempo, a doença começou a ganhar terreno, e foi tudo tão rápido que em poucos meses o nosso melhor amigo enfrentava um sofrido dilema que nunca consegui imaginar: tinha de escolher entre simplesmente respirar ou fazer qualquer outra coisa, incluindo comer! O coração estava fraco e outros órgãos começaram a entrar em falência. O Nero teve de ser eutanasiado, e tivemos de ser nós, eu e a minha irmã mais nova, a tutora legal dele, a tomar a dolorosa decisão de dizer adeus ao mais entusiasmado membro da família, que naquele dia pedia, com o olhar, que o deixássemos ir em paz.

 

A morte do Nero foi um dos acontecimentos mais marcantes da minha vida. Naquele dia assimilei o que já tinha aprendido sem me dar conta: o amor não tem mesmo barreiras. Quando amamos, amamos o que é igual a nós, o que é diferente, o que nos faz sorrir, o que nos ensina a sermos melhores. O Nero ensinou-me imenso, e graças a ele aprendi a amar todos os seres que fazem parte da minha vida, tenham a raça que tiverem. O Nero tinha muita raça, mesmo que o boletim de saúde dele dissesse que não. Tinha olhos verdes e pelagem dourada, e era para mim o cão mais bonito do mundo. Ainda é, mas agora a par do Odie, que foi viver connosco algum tempo depois de o Nero nos deixar. Mas tinha sobretudo carisma, aquele mau-feitio que se mistura com um ar mimado e amoroso que ele também tinha.

 

O Nero mudou a minha vida. É graças a ele que sei o que é o amor incondicional, e como é possível sentir esse amor por alguém que não fala a nossa língua, não partilha os nossos ideais ou costumes, não faz nada que não lhe apeteça fazer, mas denuncia, em todos os olhares, em todos os movimentos, a alegria de nos ter ali. Foi o Nero que me fez querer ajudar os animais. Não teve a ver com ele a circunstância em que isso se tornou possível, mas foi por ele, que sei que há-de estar a ver-me do "céu dos cães", que quis tornar-me uma pessoa melhor para os seres e outras espécies.

 

Nero is awesome! 

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