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REPORTAGEM REALIZADA PARA A REVISTA IM MAGAZINE EM MARÇO DE 2009

MAIS DE 1100 EMPRESAS EM 37 PAÍSES PARTICIPAM NA INICIATIVA ONE PERCENT FOR THE PLANET

Uma aliança internacional pelo ambiente

 

Uma conversa casual entre dois empresários norte-americanos apaixonados por desportos de ar livre culminou na criação de uma grande aliança internacional em prol do Ambiente e do desenvolvimento sustentável, que eleva a um novo nível o conceito de responsabilidade social das empresas. Ao longo dos últimos anos, mais de 1100 unidades empresariais, de 37 países, aderiram à One Percent for the Planet. Todos os anos afectam um por cento das suas vendas a organizações ambientalistas. Portugal também já participa no projecto...

 

CARLA TEIXEIRA

 

O norte-americano Yvon Chouinard ficou conhecido em todo o mundo pela sua coragem e dedicação quase obsessiva ao desporto, mas também pela sua visionária estratégia de negócios, voltada para o desenvolvimento sustentável. Montanhista de renome internacional, surfista apaixonado e pescador, o fundador da Patagonia (a primeira grande empresa de varejo dos Estados Unidos a trocar o algodão por tecidos orgânicos na produção de roupa e líder na investigação de matérias-primas alternativas), conseguiu convencer grandes marcas como Gap, Levi’s, Nike e Timberland, a optar pelo uso daqueles materiais, no âmbito de uma actuação empresarial voltada para a minimização dos danos ambientais. Em 2001, numa jornada de pesca, conheceu Craig Mathews, proprietário da Blue Ribbon Flies, uma premiada estância de fly-fishing de West Yellowstone, no estado de Montana.

Nessa primeira troca de palavras, perfeitamente casual, os dois empresários perceberam que, mais do que a aversão a gravatas e a horários rígidos, partilhavam uma paixão pela Ecologia, já que ambos destinavam uma parte das vendas dos seus negócios ao apoio de organizações sem fins lucrativos da área ambiental. Estava criado o embrião da One Percent for the Planet, curiosamente no país que durante anos resistiu à ratificação do Protocolo de Quioto, comprometendo o resultado da luta contra as emissões de gases com efeitos de estufa e, por essa via, o desenvolvimento sustentável do planeta.

Desde essa primeira conversa, os dois empresários encontraram-se por diversas vezes, sempre com o intuito de lançar a iniciativa, inédita nos seus propósitos. Ainda naquele ano, debateram a designação a dar ao projecto: Yvon quis chamar-lhe “Imposto da Terra”, mas Craig fez a sugestão que haveria de ser aceite. No ano seguinte, a One Percent for the Planet era oficialmente lançada, numa cerimónia na loja Patagonia de S. Francisco, na Califórnia, em que 21 empresas formalizaram a sua adesão. Na edição de 2003 do Fly Fishing Retailer, em Denver, no Colorado, teve lugar uma nova apresentação do projecto, que conquistou novos membros. O sucesso da iniciativa, transmitido de boca em boca, continuou pelos anos seguintes, agregando cada vez mais empresas interessadas em apoiar as causas ambientais no seu desempenho profissional.

”Em declarações à IM MAGAZINE, o porta-voz da One Percent for the Planet lembrou que, desde a sua primeira conversa, Yvon e Craig “sentiram muito intensamente a necessidade de aumentar o volume de contribuições para as organizações sem fins lucrativos que trabalhavam na área do Ambiente, e que mais empresas podiam e deviam seguir o exemplo”. Segundo Grady O'Shaughnessy, a afectação de um por cento das vendas a esta causa representa “um compromisso muito significativo para algumas empresas, nomeadamente em momentos de crise como o que agora atravessamos. Não se trata de dar uns tostões”, frisou o responsável, frisando que “muitas empresas em todo o mundo alegam que dão uma parte dos seus rendimentos para este tipo de causas, mas nunca concretizam de que montantes estão a falar. Serão 0,25 por cento? Serão 10 dólares? Muitas empresas dizem dar uma percentagem dos seus lucros, mas nesse caso, em anos em que a sua actividade dê prejuízo, simplesmente não contribuem com nada”. Na One Percent for the Planet isso não acontece: os membros desta organização “comprometem-se a doar um por cento das suas vendas, independentemente de o ano correr melhor ou pior. Mesmo que algumas das empresas nossas associadas tenham um ano menos bom, e em 2008 isso aconteceu com algumas, continuam a ter de efectuar a sua doação anual, porque sentem muito profundamente a necessidade de apoiar o trabalho das organizações que focam a sua acção na área do Ambiente e da sustentabilidade”.

 

Grady O'Shaughnessy concretizou que “um por cento das vendas não é um contributo menor. Para muitas empresas é muito dinheiro, e representa um importante compromisso para com o futuro do planeta”. Sobre o procedimento da organização, frisou que o dinheiro não passa pela One Percent for the Planet: “Nós encorajamos as empresas a fazer as suas doações directamente às organizações que pretendem apoiar. O dinheiro não vem para cá! Nós apenas nos certificamos de que as doações que foram acordadas estão realmente a ser feitas, e que as associações que as recebem estão de facto a desenvolver um trabalho focalizado na área ambiental. Ocasionalmente, há empresas que pedem ajuda à One Percent for the Planet para encontrar os beneficiários mais adequados aos objectivos da sua doação, mas a maioria já sabe a que instituição quer dar o seu dinheiro”. Em média, recordou o responsável, “as empresas que se associam ao projecto acabam por aumentar em 50 por cento o seu contributo ao fim de algum tempo”. Ao aderir a esta iniciativa, “as empresas impulsionam a mudança positiva, e ganham reconhecimento pela sua política de responsabilidade social. Deixam de ser parte do problema e passam a ser parte da solução”, enfatizou.

WIKIPEDIA

AKIKO NISHIMURA

FOTÓGRAFA DA ONE PERCENT FOR THE PLANET

 

“GOSTÁVAMOS DE TER MAIS MEMBROS PORTUGUESES”

 

Se na actividade empresarial as questões do foro ambiental ficam normalmente num plano muito secundário relativamente à busca dos lucros, por outro lado actualmente é maior a consciência de que a poluição e as emissões de gases com efeito de estufa estão a hipotecar o futuro do planeta. No entanto, até ao momento predominam essencialmente as experiências pontuais, não havendo ainda uma política sistematizada de combate a estes problemas. Por isso, todas as iniciativas deste género são de valorizar. É fundamental, por isso, passar a mensagem. No caso da One Percent for the Planet, Grady O'Shaughnessy considera que a notoriedade do projecto está a aumentar, e diz que têm sido muitas as formas de promoção do trabalho ali desenvolvido: “Entre os nossos membros temos alguns projectos empresariais de grande importância, e também há músicos incríveis – como Jack Johnson e Jackson Brown, entre outros – que se associaram à organização. Todos divulgam o seu envolvimento na One Percent, incluindo o nosso logótipo nos seus catálogos nas embalagens dos seus produtos, na internet e nos seus actos públicos”. Por outro lado, Yvon and Craig falam regularmente da organização em entrevistas que concedem aos canais de televisão, à imprensa e na internet.

“Também colocamos os nossos anúncios em algumas revistas, principalmente nos Estados Unidos e em França, participamos em eventos sobre o papel das empresas na filantropia ambiental e desenvolvemos muitas outras formas de divulgação das nossas iniciativas”, resumiu o porta-voz do projecto, acrescentando ainda que a One Percent for the Planet está agora a trabalhar num filme institucional, com edição prevista para Julho, que dará a conhecer a sua história. Questionado sobre a possibilidade de a aparente falta de divulgação do projecto estar na base da pouca adesão de empresas portuguesas, Grady O'Shaughnessy respondeu que a organização “tem ainda poucos anos e foi criada nos Estados Unidos. A mensagem está a espalhar-se em todo o mundo, e já temos mais de 1100 associados, em 37 países, que contribuem com 12 milhões de dólares por ano para associações ambientais. Encorajamos as empresas de todos os países a aderir, e obviamente gostaríamos de ter mais membros portugueses. Não acreditamos que Portugal esteja a fazer algo de errado. A One Percent for the Planet é um conceito novo para muitos empresários, mas esperamos que alguns leiam este artigo e demonstrem interesse em conhecer-nos e em aderir”.

 

DOURO VINHATEIRO NA ONE PERCENT

 

É no coração da mais antiga região demarcada do mundo – o Alto Douro Vinhateiro, berço do famoso Vinho do Porto e Património da Humanidade – que está sediada a Odisseia Wines, a única empresa portuguesa (ainda que criada por um empresário francês) participante na One Percent for the Planet. Fascinado pela paisagem, pela cultura e pela produtividade daquelas terras, Jean-Hugues Gros fixou-se em Tabuaço, no distrito de Viseu, em 2004, depois de, durante cinco anos, ter trabalhado como enólogo e consultor de outras quintas de produção vitivinícola.

À conversa com a IM MAGAZINE, Jean-Hugues Gros recordou que conheceu a One Percent for the Planet através de uma revista. “Fui ver o site e achei interessante a ideia de dar uma parte das vendas a um projecto diferente”. Porque acha “primordial tentar proteger a Natureza, que é o que temos de mais importante”, o empresário decidiu-se prontamente quanto à adesão da sua empresa, mas reconhece que poderá haver alguma falta de informação na origem da pouca adesão de empresas portuguesas. “A revista em que tomei conhecimento de One Percent não era uma revista portuguesa. Não sei se houve alguma forma de divulgação do projecto em Portugal. Ainda por cima, as solicitações são muitas, e as empresas têm cada vez mais cuidado da forma como gastam o seu dinheiro, mais ainda neste período de crise.

Jean-Hugues Gros aderiu sem pensar nas eventuais vantagens para a sua empresa, mas porque diz ter acreditado no projecto. “Quando aderi, não havia organizações portuguesas. Há agora uma, a Liga para a Protecção da Natureza, e é a essa organização que darei a minha contribuição deste ano (cerca de 700 euros), porque distingo sempre uma organização do país onde vendo mais vinho, e em 2008 foi Portugal”, explicou.

 

JEAN-HUGUES GROS

FOTO CEDIDA PELO PRÓPRIO

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