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ESQUERDINOS CELEBRAM HOJE O SEU DIA MUNDIAL

Direito a ser canhoto

 

A 13 de Agosto (dia do azar, mês do mau agouro), celebra-se anualmente o Dia Mundial do Canhoto. Uma data “sinistra” (termo italiano que designa algo funesto e pernicioso), que rende homenagem aos 10 por cento da população que parecem viver do lado errado do espelho…

 

CARLA TEIXEIRA

 

Se nos colocarmos diante de um espelho e ali realizarmos uma das nossas tarefas quotidianas – pintar os olhos, lavar os dentes, limpar o rosto ou pentear o cabelo –, a imagem que veremos reflectida será sempre a de alguém que nos imita em todos os gestos, mas usando a mão contrária. Se somos dextros (e essa será a realidade em cerca de 90 por cento dos casos), então o que temos diante de nós, encerrado na superfície envidraçada do espelho, será a imagem do que para nós se parecerá com um canhoto. Como que presos desse lado do espelho, num mundo onde tudo parece funcionar ao contrário, vivem os esquerdinos, que hoje ascendem a mais de 10 por cento da população do planeta. No Dia Mundial do Canhoto, O PRIMEIRO DE JANEIRO dá a conhecer uma realidade diferente, de um grupo de pessoas que não têm representação em qualquer associação, mas que, de acordo com o que a nossa reportagem conseguiu apurar, enfrentam quotidianas dificuldades em termos de adaptação ao mundo à sua volta.

Porque diariamente há milhões de pessoas que não cedem ao impulso de estender a mão para um cumprimento sem pensarem se essa será a mão correcta, e porque diariamente essas pessoas têm de se adaptar a uma realidade que não os teve em conta, a Left-Handers Internacional (associação norte-americana entretanto extinta, mas que nos anos 70 fervilhava de actividade) instituiu o Dia Mundial do Canhoto na data de hoje, que curiosamente congrega o número 13, normalmente conotado com o azar, com aquele que se convencionou ser o mês do mau agouro. A palavra escolhida em várias línguas para definir os esquerdinos tem também quase sempre um significado pejorativo, funcionando porventura como causa ou consequência de um certo preconceito que sempre existiu contra os canhotos, que levaram muitos adultos a tentar mudar esse comportamento nas suas crianças.

Em Portugal não há uma entidade representativa dos interesses dos esquerdinos, e noutros países essa também não parece ser uma ideia que colha entusiasmo. Da mesma forma que as lojas vocacionadas para a venda de artigos adaptados abrem e fecham com regularidade – os canhotos queixam-se da falta de artigos próprios, mas os estabelecimentos comerciais garantem que as vendas são insuficientes –, também as associações são poucas e de actividade pouco duradoura. No entanto, o Dia Mundial do Canhoto tem um site próprio (www.lefthandersday.com), onde são indicados como objectivos da efeméride chamar a atenção de um mundo feito para os dextros dos desafios diariamente colocados às pessoas que vivem fora desse conceito, educar designers e fabricantes de equipamentos para terem em conta aquela população, celebrar os pontos em que os canhotos têm vantagens, divulgar locais onde sejam vendidos artigos adaptados e promover a investigação de vários temas ligados à circunstância de se ser canhoto.

REPORTAGEM PUBLICADA NO JORNAL «O PRIMEIRO DE JANEIRO» NO DIA 13 DE AGOSTO DE 2007

ESQUERDINOS FAMOSOS

 

– Adolf Hitler, líder da Alemanha

– Albert Einstein, físico alemão

– Alexandre, o Grande

– Angelina Jolie, actriz

– António Lobo Antunes, escritor

– Aristóteles, sábio e filósofo grego

– Bach, compositor alemão

– Ben Stiller, actor

– Benjamin Franklin, inventor e político

– Benjamin Netanyahu, político

– Bill Gates, dono da Microsoft

– Bob Dylan, músico

– Carlos, príncipe inglês

– Charlie Chaplin, actor

– Colin Powell, general e político

– Eminem, músico

– Fidel Castro, lider cubano

– Friedrich Nietzsche, filósofo

– George Michael, cantor

– Greta Garbo, actriz

– Henri Ford, criador de automóveis

– Isaac Newton, físico e matemático

– Jerry Seinfeld, humorista

– Jimi Hendrix, músico

– Joana d'Arc, heroína

– Julia Roberts, actriz

– Kurt Cobain, músico

– Leonardo da Vinci, cientista e pintor

– Ludwig van Beethoven, compositor

– Maradona, futebolista

– Machado de Assis, escritor

– Mahatma Ghandi, pacifista

– Marylin Monroe, actriz

– Miguel Ângelo, pintor

– Neil Armstrong, astronauta

– Nicole Kidman, actriz

– Napoleão Bonaparte, imperador

– Pablo Picasso, pintor

– Paul McCartney, músico

– Paulo Futre, futebolista

– Pelé, futebolista

– Phil Collins, músico

– Ringo Starr, músico

– Robert de Niro, actor

– Romário, futebolista

– Seal, cantor

– Tibério, imperador romano

– Tom Cruise, actor

– Paul Simon, músico

 

ESTADOS UNIDOS

GALERIA PRESIDENCIAL

 

– James A. Garfield (1831-1881)

– Herbert Hoover (1874-1964)

– Harry S. Truman (1884-1972)

– Gerald Ford (1913-2006)

– Ronald Reagan (1911-2004)

– George Bush (1924-…)

– Bill Clinton (1946-…)

– George W. Bush (1946-…)

CURIOSIDADES

SOBRE OS CANHOTOS

 

A circunstância de ser esquerdino está associada a comportamentos curiosos: quando desenham, por exemplo, os canhotos tendem a posicionar os objectos voltados para o lado direito. Há uma propensão elevada para a existência de um canhoto em cada par de gémeos, e a gaguês e a dislexia são também mais frequentes naquelas pessoas, nomeadamente quando na infância foram forçados a trocar o lado mais forte. Atingem a atingem a puberdade quatro a cinco meses mais tarde do que os dextros, mas nem tudo é mau: têm maior capacidade de adaptação à visão subaquática e são particularmente dotados para desportos como ténis, basebol e natação.

LATERALIDADE: BRINCAR E DESCOBRIR

 

O conceito de “lateralidade” define, em termos técnicos, a predominância cerebral de um lado do corpo sobre o outro, tendo em conta o uso que se faz das mãos, dos pés e dos olhos. O lado dominante define-se por volta dos quatro ou cinco anos de idade, tendo em conta a utilização preferencial do lado direito (em cerca de 90 por cento dos casos) ou do esquerdo (10 por cento), havendo ainda casos em que as crianças demonstram singular aptidão com os dois lados do corpo, ou que usam de forma preferencial a mão esquerda, mas o pé direito, por exemplo, fenómeno que se define como “lateralidade cruzada”. A aferição da predominância lateral em cada criança pode ser feita através da observação do modo como brinca e realiza tarefas determinadas, e estimulada através de jogos específicos.

Muito ao gosto da generalidade das meninas, a pintura do rosto é uma brincadeira que também agrada aos rapazes (se for para se parecerem com os índios), e serve de forma exemplar o objectivo de aferição da lateralidade. Em permanente diálogo com os mais novos, os adultos poderão pedir-lhes que pintem o lado direito da cara ou a sobrancelha esquerda, e ensiná-los de forma simples a diferença entre os dois conceitos. Quase sem perceber que está a fazê-lo, a criança aprenderá a distinguir a direita da esquerda, e assim desenvolverá a sua lateralidade. No entanto, avisam os especialistas, em nenhum caso a criança deve ser contrariada no seu impulso de usar uma ou outra mão, já que, ao obrigar a inverter uma programação definida a nível cerebral, os pais estarão a condicionar o desenvolvimento natural dos filhos.

 

C.T.

ESTUDOS RECENTES ATESTAM MÁS QUALIDADES, MAS NÃO CONFIRMAM CRENÇAS NAS BOAS...

Gene canhoto favorece doenças

 

Não há evidências científicas de que os canhotos tenham maior capacidade mental do que os destros, mas alguns estudos relacionam a lateralidade com certas doenças do sistema imunológico e com distúrbios neurológicos como autismo, síndrome de Down, epilepsia e esquizofrenia…

 

CARLA TEIXEIRA

 

A grande maioria dos desenhos de mãos feitos por homens das cavernas mostra a mão esquerda, o que significa que, à partida, terão sido feitos com a mão direita, contornando cada um dos dedos da esquerda. Remontará a esse tempo a primeira demonstração da tendência humana para, no que diz respeito à questão da lateralidade, ter o lado direito do corpo como dominante, realidade para aproximadamente 90 por cento da população mundial – nos animais a prevalência de indivíduos destros e canhotos é sensivelmente a mesma –, mas que levanta aos restantes 10 por cento diversos problemas no quotidiano e, segundo recentes desenvolvimentos na área da investigação científica, lhes confere mais elevadas probabilidades de sofrerem de determinadas doenças neurológicas e do sistema imunológico.

No momento em que a comunidade científica se debate com a tentativa de saber se os canhotos, por terem uma predominância de hemisférios cerebrais inversa à dos destros, possuem características específicas de personalidade decorrentes desse evento, alguns estudos recentes sugerem a existência de uma relação entre a lateralidade e o sistema imunológico. Os especialistas norte-americanos Norman Geschwind e Albert Galaburda concluíram que entre os canhotos há um maior índice de problemas imunológicos, o que atribuíram à presença de testosterona no desenvolvimento fetal, que explicaria um baixo desenvolvimento do hemisfério esquerdo, favorecendo o aperfeiçoamento do direito. Da mesma forma, e tendo em conta que a testosterona exerce menor influência sobre fetos femininos, estaria igualmente a existência de menos meninas e mulheres canhotas, bem como a maior prevalência de defeitos de linguagem e cognição nos homens.

Um estudo realizado por uma equipa de investigadores do Centro de Genética Humana da Universidade de Oxford publicado no jornal «Molecular Psychiatry» aferiu também a maior propensão nos esquerdinos para algumas psicoses como a esquizofrenia. O gene LRRTM1 parece, de acordo com os resultados daquela investigação, desempenhar um papel essencial no controlo das partes do cérebro que coordenam funções específicas, como a fala ou as emoções. Nos indivíduos destros o lado esquerdo do cérebro controla o discurso e a linguagem, enquanto o lado direito controla as emoções. Nos canhotos, à luz do estudo, as funções invertem-se, alegadamente por culpa daquele gene.

 

CAUSA DESCONHECIDA

 

Entretanto, uma investigação desenvolvida por cientistas da Universidade Nacional da Austrália aferiu que as pessoas canhotas pensam de forma mais rápida enquanto estão a praticar desporto ou a jogar no computador. Nick Cherbuin, o investigador que liderou o estudo, explicou que as pessoas tendem a usar os dois hemisférios cerebrais para desenvolverem tarefas muito rápidas ou muito difíceis, bem como para aquelas tarefas que exigem maior informação, como os jogos de computador, a condução automóvel em estradas muito movimentadas ou a prática de actividades desportivas. Os especialistas estabeleceram o tempo de transferência entre os dois hemisférios cerebrais através da medição dos tempos de reacção a pontos brancos que piscavam do lado esquerdo e do lado direito de uma cruz.

Comparando os resultados do teste com a capacidade evidenciada pelos indivíduos em estudo para realizarem determinadas tarefas – como encontrar letras semelhantes nos campos visuais da esquerda e da direita da cruz, para a qual seria necessário o uso dos dois lados do cérebro em simultâneo –, os cientistas apuraram que os 80 participantes esquerdinos demonstraram a existência de uma forte relação entre a rapidez com que a informação era transferida entre os dois hemisférios cerebrais e a rapidez com que os voluntários localizavam as letras semelhantes. Quando os testes foram repetidos em 20 dos indivíduos os investigadores descobriram que a tendência para a utilização da mão esquerda varia na proporção directa da capacidade de processamento da informação pelos dois lados do cérebro.

As causas que sustentam o surgimento deste fenómeno permanecem desconhecidas, apesar de serem muitas as tentativas e as teorias para explicar a definição cerebral da lateralidade motora. As que colhem mais adeptos têm a ver com questões hereditárias e relacionais, sendo a primeira hipótese derivada da constatação genética do problema: a probabilidade de uma criança se revelar esquerdina é maior se os pais forem canhotos. Já a hipótese relacional prende-se com o facto de o canhoto se desenvolver num certo meio que, por diversos motivos, poderá propiciar o surgimento de um ou outro tipo de lateralidade motora ditada pelo cérebro.

 

CENÁRIOS E PROBABILIDADES

 

Quatro dos cinco designers do primeiro computador Macintosh eram esquerdinos. Um grupo atípico, já que, que no cenário social mundial os canhotos representam uma percentagem de apenas 10 por cento, que dobra no caso dos gémeos, franja em que 20 por cento das pessoas usam preferencialmente o lado esquerdo do corpo e revelam distúrbios neurológicos, talvez devidos à falta de privacidade no útero. O “esquerdismo” atinge mais homens do que mulheres e afecta sobretudo os portadores de desordens mentais como epilepsia, autismo e síndroma de Down. A probabilidade de nascimento dos canhotos varia entre dois por cento, no caso de os dois progenitores serem destros, e 46 por cento, se ambos forem esquerdinos. Em casais mistos, a probabilidade fica-se pelos 17 por cento.

 

UM LIVRO ESCUSADO...

 

Desde tempos imemoriais conotados com o pe-cado e a tentação, na Idade Média eram apon-tados como praticantes de bruxaria e queimados vivos. Os canhotos foram sempre alvo de pre-conceito, e os seguidores de Maomé chegaram mesmo a proclamar que Alá tem duas mãos di-reitas. Na generalidade dos idiomas, a palavra escolhida para definir o canhoto tem sentido pe-jorativo, como se usar mais o lado esquerdo do corpo fosse uma espécie de estigma. «O direito de ser canhoto», livro de Manuel Coelho dos Santos, nas bancas com a chancela da Quarteto Editora, dá a conhecer o universo dos esquer-dinos, pela mente e pela mão do pai de um deles. Com uma apresentação inovadora (pode ser lido da direita para a esquerda ou no sentido inverso), aborda dificuldades e constrangimen-tos.

Maria de Jesus Barroso escreveu o prefácio, onde diz que esta obra poderá “parecer um livro escu-sado”, tantas são as questões graves que assolam as populações. No entanto, frisa, “a formação e a educação das crianças devem ser a prioridade das prioridades”, porque “delas depende a saúde da sociedade onde essas crianças serão os cida-dãos que nela agirão e que a orientarão”. O livro de Manuel Coelho dos Santos examina grande parte dos materiais de que dispõem as crianças canhotas e demonstra, com imagens sugestivas, as vantagens e as desvantagens que essa situa-ção representa. Mas o livro “extravasa mesmo as fronteiras da escola, para se debruçar, com o mesmo interesse, sobre todo o material neces-sário ao canhoto para poder comer conforta-velmente ou entreter-se nas horas de lazer”.

 

C.T.

PSICÓLOGO FERNANDO LIMA MAGALHÃES FALA DA ATITUDE DOS ADULTOS

"Os pais não devem estigmatizar"

 

A predominância do hemisfério cerebral que dita o uso principal da mão esquerda não é um defeito nem justifica o preconceito face aos canhotos. Forçar a inversão dessa tendência pode, avisa o psicólogo Fernando Magalhães, ter efeito negativo no auto-conceito dos indivíduos.

 

CARLA TEIXEIRA

 

Não estará hoje tão em voga como antigamente a tendência dos pais de crianças esquerdinas para contrariar a predominância do hemisfério cerebral que comanda a utilização preferencial do lado esquerdo do corpo, designadamente forçando os filhos a usar a mão direita para escrever. No entanto, o psicólogo Fernando Lima Magalhães, médico e proprietário do Gabinete de Psicologia que funciona na Rua de Júlio Dinis, na cidade do Porto, socorrendo-se dos manuais de Neurologia diz que “até aos 11 ou 12 anos é possível mudar a predominância da mão esquerda, ensinando a criança a escrever com a direita”, mas a partir dessa altura, quando “o sistema nervoso central está totalmente adaptado”, tal já não será exequível.

O terapeuta considera, no entanto, que “não há motivo para qualquer preconceito face a estas pessoas, porque elas não sofrem de um qualquer defeito ou problema de saúde, mas só de uma variação do comportamento”. Questionado sobre o impacto que a tentativa dos pais para alterar a propensão das crianças para a utilização da mão esquerda poderá ter no desenvolvimento dos mais pequenos, o psicólogo refere que “tudo depende de como a criança vai interpretar essa pressão” para mudar o seu comportamento instintivo. Se associar a ideia de escrever com a mão direita a uma pressão negativa ou violenta por parte dos progenitores, o menor “poderá desenvolver problemas ao nível da sua auto-estima e do conceito que tem de si mesmo”, porque “poderá sentir que tem uma deficiência ou uma insuficiência, e que está a ser castigado por isso”.

Apesar de admitir esse risco, Fernando Lima Magalhães considera que o efeito não será muito diferente do de outros castigos, e explica que “as crianças envolvem-se no que os adultos à sua volta pensam que elas são. Se essa concepção for negativa podem assumir que têm um problema, e sofrer efeitos negativos de acreditarem nesse auto-diagnóstico”. Avisa que “os pais não devem estigmatizar ou permitir que outros adultos façam troça das crianças canhotas”.

Tendo em conta que aproximadamente 10 por cento da população mundial é esquerdina, o psicólogo é da opinião de que seria de esperar um maior interesse na investigação do assunto, mas explica o facto de isso não acontecer com a convicção de que “não se trata de um defeito ou de um problema de saúde, nem sequer de uma condição que prejudique as pessoas”. Lembra até que “há profissões em que os canhotos são muito apreciados, como o ténis ou o basebol”, e que há também vários futebolistas mundialmente famosos pelo poder do seu pé esquerdo.

Surpreendido pelo facto de não existir uma associação representativa da faixa da população que se socorre mais facilmente do lado esquerdo do corpo – se existe, ninguém parece saber onde fica ou como actua –, Fernando Lima Magalhães diz que “o que importa salientar é que essas pessoas não sofrem de um problema de saúde”, e que, se sentem dificuldades no manuseamento de alguns instrumentos no seu quotidiano, isso deriva de “um problema exterior, que é a falta de objectos adaptados para essas pessoas”. Apesar de haver lojas que se dedicam à venda desses produtos, são poucas e pouco divulgadas. Frisa também que “não há uma evidência científica que prove que os canhotos têm maior talento para as artes”.

NA LOJA DE NED FLANDERS, NA SÉRIE DE ANIMAÇÃO «OS SIMPSONS»

"Está tudo ao contrário"

 

Se no mundo real não é superior a 10 por cento a percentagem de canhotos, na cidade ficcionada de Springfield, onde vive a família Simpson, da aclamada série de animação, são muitos os que experimentam dificuldades de adaptação pelo facto de serem esquerdinos…

 

CARLA TEIXEIRA

 

O pequeno e irrequieto Bart Simpson, Skinner (o presidente da câmara), Burns (o dono da central nuclear onde Homer trabalha), Moe (o dono do bar) e até Guy (o cobrador de impostos) são canhotos, e essa exagerada prevalência do fenómeno leva a que existam, na pequena cidade, três espaços comerciais especificamente direccionados para a comercialização de artigos adaptados para esses cidadãos.

Uma dessas lojas, o Leftorium, é propriedade do tranquilo Ned Flanders, vizinho do lado da família Simpson, que na sua juventude trabalhou como vendedor na indústria farmacêutica, mas que tendo amealhado importantes economias, abriu um negócio de família, depois de, num churrasco, e por ser também canhoto, ter queimado a gravata enquanto tentava, sem sucesso, abrir uma lata de conserva. Na sequência desse incidente, Ned Flanders proclama a intenção de abrir uma loja vocacionada para servir os interesses dos esquerdinos, onde haverá desde abre-latas e tesouras adaptadas, uma enorme parafernália de produtos.

Ned chega mesmo a anunciar que terá disponível na sua loja um automóvel, de que apenas foram construídas três unidades, inteiramente concebido a pensar nas pessoas canhotas, mas assegura que não venderá no Lefttorium qualquer tipo de enroladores de pestanas para mulheres esquerdinas.

Ao jeito cómico de tudo o que envolve a série «The Simpsons», muitos dos produtos presentes na loja de Ned Flandres são apenas etiquetados como sendo “para canhotos”, sem que qualquer característica do produto contribua especialmente para que assim seja referenciado. É o caso de lápis e canetas que, sendo iguais para canhotos e dextros, em nada justificam a classificação de “para esquerdinos”. No entanto, o patriarca da família Simpson proclama, incentivando as pessoas que passam a entrar na loja, que no Leftorium “está tudo ao contrário”.

A loja evidencia uma prosperidade que faria inveja ao proprietário de um qualquer estabelecimento comercial português, ainda mais dada a sua especialização. No nosso país, segundo O PRIMEIRO DE JANEIRO conseguiu apurar, são poucas e de sucesso sofrível as lojas que se dedicam à venda de artigos adaptados para canhotos, quer em exclusivo, quer juntamente com outros produtos. A Top Brinca (Amadora) é uma dessas lojas, mas fonte da empresa, que comercializa material escolar, disse que os produtos para canhotos têm “pouca saída”, representando “menos de um por cento das vendas”…

 

C.T.

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