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GRANDE REPORTAGEM PUBLICADA NO SITE TERR@PORTUGAL EM OUTUBRO DE 2000.

VINHO DO PORTO

DA VINHA AO COPO

CARLA TEIXEIRA

Porto: Um vinho com história!

 

No nordeste de Portugal, resguardada dos ventos húmidos do Atlântico pelas serras do Marão e de Montemuro, ergue-se nos socalcos das belíssimas margens do Rio Douro a mais antiga região demarcada do mundo, berço exclusivo de um dos néctares mais famosos e apreciados à escala mundial, ele próprio património cultural, de experiência, saber e arte de uma espessura histórica que várias gerações acumularam.

 

CARLA TEIXEIRA

 

Nesta paisagem vitivinícola verdadeiramente singular, que actualmente se estende por 250 mil hectares, já no tempo da ocupação romana se fazia o cultivo daquele que, séculos mais tarde, haveria de chamar-se “Vinho do Porto”, e que é hoje um produto-chave da economia nacional e um símbolo do prestígio que, desde tempos imemoriais, o nome de Portugal tem conseguido alcançar. Os vestígios de lagares e vasilhame vínico nesta região remontam aos séculos III e IV, mas apesar da antiguidade da história do vinhedo no Alto Douro – região onde se produzem quase todos os tipos de vinhos e seus derivados – foi o Vinho do Porto, então chamado “Vinho de Riba Douro”, que atribuiu à região a fama que hoje ostenta, ampliada no decorrer dos séculos XVII e XVIII, em que também a cidade do Porto conheceu um importante crescimento económico, em grande parte relacionado com o comércio deste vinho que descia o Douro e dali era exportado para a Europa e para o mundo.

De acordo com a lenda, o Vinho do Porto, que na bacia hidrográfica do Douro vem sendo fabricado há quase dois mil anos, deve a sua reputação aos filhos de um abastado comerciante britânico que o terão transportado pela primeira vez para a sua terra, onde rapidamente terá conquistado um lugar de destaque nas preferências do seu povo, que em detrimento dos vinhos de Bordéus e de outras regiões francesas, importam quantidades crescentes de Porto. Estimulada pela procura inglesa crescente e pelos preços altíssimos, a produção duriense procura adaptar-se às novas exigências do mercado, mas o negócio rivalizou interesses e suscitou algumas fraudes e abusos que, a partir de meados do século XVIII, motivaram alguma estagnação no volume de exportações. Não obstante, a produção continuava em alta, o que levou os ingleses a contestar a qualidade do produto e a recusar o negócio, alegando a existência de fraudes e acusando os lavradores de adulterarem o produto.

Instalou-se uma crise comercial que levou alguns dos maiores produtores a exercer pressão sobre o Governo do Marquês de Pombal.Um dos anos mais importantes da história do Vinho do Porto foi o ano de 1703, quando, em nome de D. Pedro II, Monteiro Paim procedeu à assinatura do Tratado de Methuen, que veio consagrar no plano diplomático o fluxo mercantil, prevendo a contrapartida de privilégios para os tecidos britânicos no mercado português. Em 1756, o Marquês de Pombal exarou o alvará régio que instituiu a demarcação das vinhas durienses e a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Nessa altura, em que a região produzia mais de 20 mil pipas – cerca de um décimo da produção actual – o comércio foi de tal forma favorecido que a quantidade produzida cedo se revelou insuficiente para satisfazer a procura. D. Maria I ordenou então o alargamento da zona demarcada, e o Douro entrou numa fase de prosperidade, já que o Vinho do Porto assegurava mais de 50% das receitas totais de exportação do país, resistindo inclusive ao impacto das invasões francesas e aos embates da liberalização do comércio, que culminariam no encerramento da Companhia, em 1863 (transformada então na Real Companhia Velha, empresa comercial que ainda hoje existe).

O século XIX ficou marcado por fortes pragas de filoxera e oídio, que deixaram em ruínas as vinhas, muito embora os produtores durienses tenham reagido de imediato de forma a evitar males maiores: das técnicas às condições de exploração, tudo mudou na região. Em 1907, iniciou-se uma era de maior proteccionismo que ditou a nova demarcação da zona vinhateira e preconizou o esboço do que é actualmente a região do Douro. Em 1926, foi criado o Entreposto de Vila Nova de Gaia, prolongamento da região produtora, onde, a partir desta altura, era obrigatório que todas as empresas ligadas ao comércio do vinho tivessem ali os seus armazéns de envelhecimento, acabando na prática com o comércio directo a partir da origem.

Em 1932, foi criada a Casa do Douro (a funcionar actualmente com dois pólos, no Porto e na Régua), a funcionar sob tutela do Instituto do Vinho do Porto (criado um ano antes), que procedeu ao cadastro de todas as vinhas, anotou as suas dimensões e características, as castas plantadas e a exposição solar. Contudo, o período de estagnação que se vinha verificando nas vendas atravessou toda a Segunda Guerra Mundial, para só por volta de 1960 se inverter a tendência, com o final do século a bater todos os recordes de exportação comparativamente aos séculos anteriores.

No que toca a empresas exportadoras, a tendência tem sido a da concentração, muito embora existam alguns produtores que optaram pelo retorno à comercialização directa, recuperando a prática que, desde 1926, se perdera completamente. Desde 1995, o Douro conta com um organismo interprofissional – a Comissão Interprofissional da Região Demarcada do Douro (CIRDD) – em que representantes da lavoura e do comércio, em absoluta paridade, investem no controlo da produção e comercialização dos vinhos com denominação de origem, tendo em conta especificações históricas, culturais e sociais da região.

A ROTA DO DOURO

 

Milenar néctar generoso e envelhecido afamado em todo o mundo, o Vinho do Porto encontrou nas características mesológicas e climáticas da bacia hidrográfica do Douro, o seu berço por excelência, único lugar no mundo com as condições ideais para o desenvolvimento de toda uma cultura que, ao longo dos séculos, se tem gerado em torno dele. Mais do que ao incessante labor humano ou ao cuidado que lhe são prodigalizados em todo o processo produtivo, desde a vinha às caves do entreposto de Vila Nova de Gaia, ou mesmo às mais de 30 castas cultivadas e variedades existentes, é a essas condições agro-climáticas da região que se devem muitas das suas características inconfundíveis de sabor, aroma, cor e textura.A individualidade do Douro deve-se assim à sua localização, sendo grande a influência que exercem as serras do Marão e de Montemuro, barreiras naturais à penetração dos ventos húmidos de ocidente.

Situada em vales profundos e rodeada por vastas e belíssimas paisagens montanhosas, com invernos muito frios e verões muito quentes e secos, a região estende-se actualmente por cerca de 250 mil hectares de terrenos, e divide-se em três sub-regiões – Douro Superior, Baixo Corgo e Cima Corgo – naturalmente distintas, quer por factores climáticos, quer por condicionantes sócio-económicas.Factor fisiográfico de grande importância na caracterização climática de qualquer região, a exposição solar assume no Douro um papel preponderante na compreensão do comportamento adoptado pelas vinhas nas diferentes situações: a margem norte do rio sofre a influência dos ventos secos do sul, enquanto a margem sul está mais exposta aos ventos do norte, mais frios e húmidos, com menor insolação.

Antigamente, a presença da vinha e da sua cultura em larga expansão só era detectada na região do Alto Douro, expressão que muitos autores adoptaram nessa altura, para se referirem ao que hoje são as zonas vinhateiras do Baixo e Cima Corgo. Posteriormente, a zona de cultivo foi-se alargando para leste e hoje a sua área efectiva ocupa aproximadamente 15,4% da área total da região. Trabalhada por cerca de 33 mil viticultores, cada um com um hectare de vinhedo em média, são os pequenos produtores que têm maior peso na produção do Vinho do Porto.

 

NA ROTA DO VINHO DO PORTO

 

No dia 21 de Setembro de 1996, o Instituto de Vinho do Porto, a Casa do Douro e os órgãos regionais de turismo do Vale do Douro (Região de Turismo do Douro Sul, Região de Turismo da Serra do Marão, Região de Turismo do Nordeste Transmontano e Junta de Turismo da Régua) conjugaram esforços no sentido de divulgar a riqueza única da região do Douro, e inauguraram a chamada Rota do Vinho do Porto.

Depois de um curto período inicial de divulgação e selecção, etapas baseadas em critérios qualitativos pré-definidos, foram seleccionados e catalogados 54 locais de interesse, enquadrados num percurso cultural e turístico que visa, paralelamente à revelação da beleza paisagística e arquitectónica do Douro, mostrar a todos os interessados os vários momentos do cultivo, da produção, do envelhecimento, do armazenamento e das condições ideais de venda, conservação e consumo de cada tipo de vinho, proporcionado oportunidades de contacto com pequenos e grandes produtores, engarrafadores, adegas cooperativas e comerciantes, e visitas a enotecas (enotecnia é o conjunto de conhecimentos relativos à vinificação), museus e demais centros de interesse vitivinícola, para além de vários espaços dedicados ao turismo rural.

Cada um dos 54 locais desta rota, localizados dentro da região do Douro ou nas freguesias limítrofes, enquadra-se directa ou indirectamente no processo de produção do Vinho do Porto. Cada visitante tem a oportunidade de encontrar pequenos e grandes viticultores e produtores da região demarcada – Vinhos do Porto, DOC Douro, Moscatel e Espumante – podendo visitar as vinhas e adegas, proceder à prova e compra de vinhos e participar em vários trabalhos vitícolas, como vindimar e pisar o vinho nos lagares, por exemplo.

Nos centros de interesse vitivinícola, para além de visitas a museus, enotecas e imóveis de interesse arquitectónico relevante, há ainda a possibilidade de cedência de espaço em algumas quintas para a realização de várias festas e eventos, a título privado, particular ou empresarial.

No Gabinete da Rota, a funcionar nas instalações do Vinho do Porto no Peso da Régua, nos postos de turismo da região ou através do material promocional produzido para o efeito e distribuído regularmente, o visitante poderá obter todo o tipo de informações acerca das várias qualidades de vinho existentes e das suas características próprias, dados que deve ter sempre em observação antes de qualquer compra.São muitas as caves do Vinho do Porto que integram a Rota, convidando a uma visita guiada onde a irrecusável prova de vinhos teria de marcar presença, depois de um conjunto de guias-intérpretes ter explicado detalhadamente como se produz um dos mais soberbos néctares do mundo.

Em muitos casos, as visitas – com duração média de 15 minutos – podem ser guiadas não só em português como noutros idiomas: francês, espanhol, italiano, inglês e alemão.Douro acima, incontornável em qualquer passeio turístico pela região é a visita às 32 quintas e numerosas adegas e solares (alguns funcionam também como alojamento em espaço rural), com a oportunidade de se provar e comprar directamente aos produtores.

VIVER EM TORNO DO VINHO

 

O vinho ocupa nas necessidades do Homem actual um lugar de destaque, por ser a única bebida que transporta um valor cultural, reconhecido desde a civilização greco-latina e que se justifica por toda a envolvência de escritores e poetas que, desde essa época áurea da cultura, cantam o vinho como fonte de satisfação ou “afrodisíaco espiritual”.

Considerado desde sempre como a mais nobre das bebidas, aquela que em primeiro lugar se oferece ao mais distinto convidado e que melhor permite apreciar o talento do seu produtor, o vinho afecta de forma inequívoca toda a paisagem e vida rural que rodeia o seu processo produtivo. Existe toda uma cultura ligada ao vinho! Não é, pois, de estranhar que um vasto conjunto de associações alicerce a sua vida profissional em torno do vinho.

 

INSTITUTO DO VINHO DO PORTO

 

Com sede no Porto, o Instituto do Vinho do Porto é o organismo responsável pela certificação e fiscalização da denominação de origem que o distingue de qualquer outro néctar, produzido na região ou fora dela. É incumbência deste Instituto, através da regulamentação do seu processo produtivo e da submissão prévia a um rigoroso controle analítico e organolético, aferir da qualidade e quantidade dos vinhos susceptíveis de obter aquela catalogação, devidamente juramentada pela aposição do Selo de Garantia e pelo Certificado de Denominação de Origem, ambos emitidos pelo instituto.

Cabe também ao Instituto do Vinho do Porto dar apoio à expansão do comércio nos mercados consumidores, através da promoção genérica do Vinho do Porto a nível nacional e mundial. Criado em 1933, o Instituto assumia a responsabilidade do controle do sector, procurando orientar a produção e o comércio do vinho e fiscalizando o modo como estas actividades eram levadas a cabo. A funcionar actualmente sob patrocínio e intervenção do Estado, mantém as suas competências no âmbito da fiscalização, promoção e defesa da denominação de origem.

Na prossecução do objectivo de uma cada vez maior divulgação do Vinho do Porto, o Instituto criou duas entidades distintas que prestam vários serviços ligados a ele: o Solar do Vinho do Porto (no Porto) e três Stands do Vinho do Porto, a funcionar nos aeroportos do Porto, Lisboa e Faro. Nestes locais, o visitante encontrará uma selecção de vários tipos e marcas de vinho, disponíveis para prova e venda, bem como um vasto conjunto de publicações e diverso material informativo subordinado a esta temática.

 

CASA DO DOURO

 

Criada em 18 de Novembro de 1932, como designação da Federação Sindical dos Viticultores da Região do Douro, a Casa do Douro surgiu no Peso da Régua como organismo de inscrição obrigatória, com funções de natureza pública no domínio da disciplina da produção de vinho e de mostos, na fixação de preços mínimos e na intervenção para o escoamento dos vinhos.

Entre outras funções desempenhadas pela Casa do Douro, constam a actualização do registo dos viticultores da região demarcada, o apoio à produção vitivinícola, a assistência técnica, a promoção e colaboração nos financiamentos à viticultura da região e a vigilância do cumprimento da legislação relativa à região e aos vinhos nela produzidos.

 

CONFRARIA DO VINHO DO PORTO

 

A Confraria do Vinho do Porto foi constituída em Novembro de 1982, no Porto, elegendo como figura tutelar D. Henrique. De acordo com os seus estatutos, “tem por fim a difusão, promoção e consolidação do renome mundial do Vinho do Porto”, acolhendo pessoas cuja actividade profissional esteja ligada ao comércio e exportação do famoso néctar: os Confrades! A entronização – cerimónia de admissão de novos confrades – é o acto maior da Confraria, que também organiza a Declaração do Vintage Confraria (situação que ocorre sempre que um mínimo de 10 firmas exportadoras declarem a intenção de comercializar o Vinho do Porto de uma só colheita, de excepcional qualidade, como é sempre um Vintage) e a Corrida dos Barcos Rabelos, que decorre anualmente, no dia de S. João, integrada nas festas da cidade do Porto.

 

COMISSÃO INTERPROFISSIONAL

DA REGIÃO DEMARCADA DO DOURO

 

No mês de Abril de 1995, com a criação da Comissão Interprofissional da Região Demarcada do Douro (CIRDD), o sector do Vinho do Porto foi dotado de um modelo organizacional em que a lavoura e o comércio estão representados de forma paritária, para o controlo da produção e da comercialização dos vinhos e produtos vínicos da região. Harmonizando a sua organização com as linhas orientadoras da lei-quadro das regiões demarcadas, compete à CIRDD pronunciar-se sobre as orientações da política vitivinícola da região e propor ao Governo as medidas regulamentares aplicáveis, devendo também promover acções de investigação e desenvolvimento que visem melhorar as condições da viticultura duriense.

 

ASSOCIAÇÃO DE EMPRESAS

DO VINHO DO PORTO

 

A Associação de Empresas do Vinho do Porto (AEVP), com sede em Vila Nova de Gaia, reúne 37 empresas de Gaia, da Régua e do Porto. Trata-se de um organismo privado sem fins lucrativos, constituído em 1975, e tem sido ao longo dos anos o principal instrumento de representação e coordenação geral da actividade dos associados, procurando simultaneamente funcionar como fórum de discussão interna e aproximação de posições. O seu principal objectivo traduz-se na “promoção e defesa da indústria e comércio do Vinho do Porto e a representação e protecção dos interesses dos seus associativos relativos a essa actividade económica”. O volume de associados da AEVP representa actualmente cerca de 85% do sector.

 

ENOLOGIA E CONSERVAÇÃO

 

A extrema elegância, complexidade e variedade do Vinho do Porto – brancos secos, tintos e tintos alourados (“Rubys”), “Tawnys”, “Vintages” e LBV (“Late Bottled Vintages”) – permite compor, à mesa, um cenário diverso, adaptado a cada ocasião específica em que é saboreado. Família de vinhos aristocráticos, estabelece combinações harmoniosas com grande parte dos aperitivos, doces, pastéis, frutos e sobremesas típicos da gastronomia nacional, proporcionando associações gastronómicas bastante versáteis. Porque não são casuais, estes “casamentos gastronómicos” devem respeitar as qualidades e especificidades de cada tipo de vinho. Quanto ao paladar, os Porto vão desde os extra-secos aos muito doces (consoante o momento em que a fermentação do mosto é interrompida para proceder à adição de aguardente vínica), mas é na cor que se sente a grande variedade: brancos, tintos, retintos, rubis, aloirados e aloirados-claros.

 

BRANCOS - Vinhos elaborados a partir de uvas brancas, geralmente consumido nos primeiros anos de idade, constituem aperitivos ideais. Podendo adaptar-se a algumas receitas de “cocktail”, são normalmente servidos frescos, acompanhados de canapés de peixe fumado, carnes frias e marisco ou com queijos de ovelha ou cabra. Contrariando uma disposição geral a todos os vinhos do Porto que não os Vintage e LBV, os brancos podem ser servidos com gelo, água tónica e limão.

 

TINTOS E ALOURADOS ("RUBY") - Produto de lotações (misturas homogeneizadas de dois ou mais vinhos), consomem-se normalmente entre os cinco e os 10 anos e, à semelhança dos restantes géneros de Porto, pode ser servido com frutos secos, peças de caça e presunto da serra, para além de combinarem de forma extraordinariamente elegante com grande parte dos queijos nacionais – Serra, Serpa, Azeitão, Rabaçal e Ilha – e com todos os chamados queijos azuis – Roquefort, Stiiton e Gorgonzoia. Podem ser servidos frescos, mas nunca com gelo. No armazenamento, não devem permanecer muito tempo em garrafa, sob pena de perderem a vivacidade que os caracteriza.

 

ALOURADOS "TAWNY" - Vinhos lotados envelhecidos em cascos de madeira, são comercializados a partir dos 10 anos, podendo a sua idade atingir várias décadas. Além do possível casamento com todas as delícias gastronómicas dos tintos, podem ainda ser combinados com diversas sobremesas, como tartes de fruta, pudins leves, bolos pouco doces, frutas frescas, sorvetes e chocolates. Sem colher quaisquer vantagens em guardar os “Tawny” novos, na altura de servir um vinho como este, deve ter-se em atenção que ele nunca deverá ser acompanhado de gelo, ainda que possa ser servido fresco.

 

LBV ("LATE BOTTLED VINTAGE") - Vinhos de uma única colheita, engarrafados entre os três e os cinco anos de idade, podem servir-se com gelo, preferencialmente em copos de tulipa (não demasiado pequenos, de base ampla e colo um pouco fechado), por ser os que melhor potenciam os seus aromas.

 

"VINTAGE" - O mais nobre de todos os tipos de Vinho do Porto. Provém de uma única colheita, de excepcional qualidade, é engarrafado pelo segundo e terceiro anos de idade e completa depois o seu envelhecimento em garrafa. Exigindo maiores cuidados que qualquer outro género, os “Vintages” devem ser manuseados com todo o cuidado após o seu armazenamento, já que qualquer movimento brusco poderá desalojar o depósito entretanto formado, deixando as partículas em suspensão. Algumas horas antes de serem servidos, devem ser decantados para uma garrafa de cristal, procedimento que se revela indispensável para que respirem e se mostrem cristalinos no momento do consumo. Os Vintages devem envelhecer calmamente nas garrafas (deitadas, para que a rolha se conserve húmida), pois atingem a sua plenitude passados 10, 20 ou até mais anos após a sua colheita.

VINIFICAÇÃO E ENVELHECIMENTO

 

Antes de 1756, data da primeira demarcação da zona vinhateira do Douro, a elaboração dos até aí chamados “vinhos de embarque” seguia o processo tradicional de vinificação: a aguardentação, sempre em pequeno volume, tinha lugar apenas depois de terminada a fermentação, o que resultava na produção de vinhos secos.

No ano de 1820, marcado pela Revolução Liberal do Porto e pela produção de um Vintage de excelente qualidade, deu-se início ao processo moderno de aguardentação, com a possibilidade de se poder, a partir daí, a provocar uma paragem na fermentação alcoólica do mosto, e com isso produzir vinhos com prova adamada.

Generalizado apenas por volta de 1852, este processo favoreceu a aproximação dos vinhos do Porto daquela altura aos que hoje conhecemos como tal. O envelhecimento de um Porto pode durar várias dezenas de anos, orientado de modo diferente consoante o tipo de vinho. Neste contexto, existem os vinhos envelhecidos em cascos de madeira, quase sempre produto de sábias lotações entre colheitas de vários anos, e os vinhos envelhecidos em garrafas, estes normalmente provenientes de uma só colheita e chamados “vinhos de novidade”. 

Quanto aos Vintages, resultam de colheitas obtidas em anos considerados excepcionais e não devem ser bebidos senão depois de decorridos 12 anos sobre a data da colheita, depois de cuidadosamente decantados.

O tipo de armazenamento dos vinhos do Douro tem enorme influência nas transformações que sofre e na sua composição, pelo que pipas (características da região duriense), tonéis e cubas destinadas ao armazenamento devem estar adaptadas ao tipo de desenvolvimento que se pretende atingir com o processo.

 

ENTRE ASPAS

 

“O Vinho do Porto faz parte, com todo o direito, da História de Portugal”.

(Cristina Guedes de Carvalho, escritora)

 

“Vejam lá o meu atrevimento: querer produzir o melhor vinho do mundo”.

(Próspero Vila Verde, produtor)

 

“Deus redobrou as suas bênçãos à região do Douro (...) com umas excelentes condições de clima, desde o desabrochar da videira à criação dos fecundos cachos e sua perfeita maturação”.

(Confraria do Vinho do Porto, na primeira declaração de um ano Vintage, em 1982)

 

“A originalidade do Vinho do Porto reside precisamente na sua delicadeza”.

(Cristina Guedes de Carvalho, escritora)

 

“Não sou apreciador de bebidas alcoólicas, mas o Vinho do Porto é uma realidade diferente e, desde bastante jovem, habituei-me sempre à sua presença lá em casa. Normalmente, era sabiamente guardado, ao abrigo da luz e do calor, numa garrafeira que tínhamos na cave. E quando se tratava de um vinho mais requintado – um Vintage ou mesmo um LBV – o meu pai fazia questão de seguir todo um cerimonial que tornava aquela noite mágica e verdadeiramente inesquecível”.

(Luciano Cerqueira, jornalista)

 

“Não são vinhos simples, são uma obra de arte”.

(Cristina Guedes de Carvalho, escritora)

 

“A Confraria do Vinho do Porto cultiva o respeito pelas melhores tradições ligadas ao nosso vinho e, como é óbvio, tem uma profunda ligação ao que de mais autêntico caracteriza o génio de Portugal e de seus filhos mais queridos. O Vinho do Porto faz a síntese de todo este espírito”.

(Confraria do Vinho do Porto)

 

“Denso, colorido e envolvente, o Douro é sobretudo rio e vinha. A paisagem duriense deslumbra com as vastas extensões de vinhedo que atapetam as suas encostas”.

(Fernanda Soares, jornalista)

 

“Douro, rio e região, é talvez a realidade mais séria de Portugal”.

(Miguel Torga, escritor)

 

“O vinho sempre foi e será no Douro o estímulo e a força de toda a dinâmica que comanda e impulsiona as gentes da região”.

(Fernanda Soares, jornalista)

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