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No calhambeque dos sonhos...

Tempo.

Feliz...

 

Viajo no teu e no meu tempo. Para nós não conta o tempo dos outros, esse dos relógios e dos compromissos que não podem ser adiados. O tempo, o meu e o teu tempo, prossegue a espaços. Conta quando estou contigo e pára depois, para se retomar no futuro, como se nem um segundo tivesse passado. Viajo no calhambeque dos sonhos, que há-de levar-me a ti sempre, mesmo que apenas no desejo de estar aí, a teu lado, respirando o mesmo ar que respiras, olhando encantada a mesma lua e o mesmo manto de estrelas que te cobre dos olhares do mundo, nessa noite de mágica poesia. Um carro imobiliza-se à tua porta. Entras, acenas-me com um beijo que guardas para depois. E como queria beijar-te já! Não falas. Não falo também. O silêncio existe, mas não na alma, que se alvoroça para chamar a tua atenção. Olho-te. Sorris, timída e interrogadamente. Perguntas de que rio, e sorrio de novo, a minha mão na tua, para te tranquilizar. Sorrio para ti, porque te adoro. E é no sorriso que me dás, esse sorriso tímido e interrogativo, que ganho o tempo que perdi na viagem, no calhambeque dos sonhos. Quero dizer-te o que sei de ti. Que te sei especial e único. Mas a boca não se abre senão para acolher os teus beijos, tantos e tão ansiados. O nosso tempo corre assim, espaçado e mágico, sentado na margem das vidas que lá fora, fora deste mundo que é só nosso, se amontoam em momentos banais. No calhambeque dos sonhos viajamos nós, sozinhos e felizes. É esse o nosso tempo. O resto nem existe.

 

Carla Teixeira

30 de Setembro de 2005

 

Sinto-me planar.

Nas asas de um vento suave

Descubro-te num sorriso,

Num olhar que me dá vida,

Que me ampara

No desamparo dos dias.

Perco-me em ti,

Mãos dadas,

tempo nosso,

Beijos, memórias, saudade...

Sei quem és,

e que és parte de mim.

Chegas numa nuvem de magia,

E é nosso o mundo,

O tempo parado em nós.

Desfaço-me diante do teu jeito,

Esse jeito de amar que é teu,

Puro, delicado, másculo também!

Amo-te nessa fúria que sou

Vertida em ti, ancorada, perdida,

Encontrada no teu abraço

Partilhado ao fim da tarde,

Quase clandestino.

É tão breve o momento,

Mas igualmente mágico e sublime,

Como todos os momentos

Que assim tornamos nossos.

Perco-me na miragem de te ver,

E antes de te saborear perto

Sei que já terás de partir.

Choro, rio, vibro e vivo

Contigo, por ti,

Em ti, amando-te assim.

– E como te amo! Tanto, tanto...

Na tua generosidade,

Nesse encanto que é apenas teu,

Quando sorris,

E se ficas sério, reflectindo.

Nas tuas hesitações,

Até no ritmo lento do pensamento,

Fazes-me feliz.

Na gula com que me olhas,

Essa arte com que me saboreias,

O tactear experimentado

No meu corpo suado, exaltado, amado,

Nessa brisa de amor

Que são os beijos que trocamos,

No tempo, na saudade, no mar revolto

Em que nos transformamos.

Fazes-me feliz.

 

Carla Teixeira

24 de Setembro de 2007

 

Dança nos teus olhos a minha saudade, e no teu sorriso o meu desejo de voltar a ti brevemente. Há no céu estrelas que bailam, tão encantadas como eu e tu, e a Lua insiste em chamar-me para a praia. Então deixo que o mar me envolva, me beije os pés como eu beijo a memória da noite em que te conheci. Há no ar que respiro um não sei quê que não entendo nem ouso tentar explicar. Há livros de poesia que quero comprar para ler contigo junto à fogueira dos meus olhos nos teus, quando chegarmos à praia. Há sonhos que quero sonhar e medos que ignoro, inconsciente da brisa que me sacode para longe de ti. O tempo esvai-se lentamente no relógio que não uso, e conto as horas para o reencontro que não posso agendar. Há um sorriso que construíste em mim com o teu sorrir. Há tudo de novo em cada olhar que me lanças, em cada aurora que brota da tua e da minha insegurança. Em cada gesto crias magia. Em cada sonho renasce a vontade de um Porto bebido na areia dos dias. Em cada palavra tua e minha, tantas sempre, há um poeta que se afirma e uma sequiosa leitora das suas inquietações. Só o tempo corre ainda, num mundo que parou em mim. Só o tempo mantém distante o sorriso que quero rever. Só o tempo me traz a saudade que me veste de quase dor e de um simultâneo e enorme sorriso. Só o tempo me condena a esta espera e à bruta indefinição de quem sou.

 

Carla Teixeira

17 de Setembro de 2005

 

O tempo esvai-se em finas gotas de nada… O silêncio denuncia a madrugada, expectante, fervilhando já dessa azáfama de saudades assassinadas que, mais logo, seremos nós. O relógio, lento, quase parado, espera. À espera do tempo do tempo, esse tempo nosso, em que temos finalmente tempo para as conversas do olhar, do sorriso, da candura pousada nas mãos que se entrelaçam ao cair da noite. O tempo é inclemente, sem paixão nem pressa, sem desejos amorosos para fazer cumprir. Mas nós, eu e tu, ansiamos em quase desespero pelo momento que há-de ser o momento do reencontro. Espero-te aqui, e tu aí, tão longe, ainda que perto te sinta no cheiro, no calor da alma, na brisa que me sopra e quase implode o coração ansioso. Como se arrasta na demora, este relógio malvado! Como demora o tempo de ter tempo para trocar abraços e saborear a magia dos beijos…

 

Carla Teixeira

6 de Janeiro de 2008

 

À espera.

SALVADOR DALÍ A persistência no tempo

 

Nasço pela manhã,

Quando acordo

Num sorriso de quem

Te vê ainda a dormir.

Desfaço-me na poesia encantada

Nesse momento que a alma

Me grita ao coração…

Sinto uma lágrima feliz

Que escorre no meu despertar,

Na emoção deste encontro,

Mágico,

Logo assim, pela manhã…

Preciso de ti.

Acordo e tu ainda dormes,

Deleito o meu olhar no rosto

Que sonhei ao teu lado,

A noite inteira, todos os dias

Do mundo…

Preciso de ti ao acordar.

Lápis imaginado,

Desenho no teu semblante que sonha

A magia do meu despertar,

Dos dias que se atropelam, na ânsia

De outros dias, de ti, de nós!

Preciso de ti!

Sorris sempre ao acordar,

E um sorriso

– esse teu sorriso –

É tudo o que preciso

Nesta manhã,

E em todas as manhãs,

Nas tardes, nas noites, nos sonhos,

Em toda essa vida que és,

Que me dás.

E como preciso de ti…

 

Carla Teixeira

1 de Janeiro de 2008

 

Preciso de ti.

Luar de folhas secas

 

Rompe-se o silêncio quando assomas ao fundo da avenida, o passo apressado, o sorriso já rasgado pelo meu que adivinhas, e pelo abraço que sei que queres receber. Aceno-te, como se fosse para ti novidade que ali estava à tua espera, pisando as folhas secas com que o Outono foi polvilhando a estrada que se desenha entre nós, abraçada com o rio. Já ouço melhor os teus passos, e sei que caminhas em ânsias de chegar a mim. Espero-te camuflada na mesma verdade, mas recuso dar um passo que denuncie o meu desejo de te beijar. Só a Lua, minha amiga e testemunha da longa espera, sabe o que sinto. O pisar das folhas secas, que agora ouço mais claro, diz-me que estás finalmente ao alcance do abraço que quero dar-te também. E torna-se assim mágico um momento que, não sendo banal, porque não é comum este luar de folhas secas, facilmente seria esquecido se ali o visse sozinha, sem o partilhar contigo. Chegas e tomas a minha mão como tua. O abraço surge estreito, o meu peito tocando o teu, e os olhos consumindo-se na fogueira que nos aquece a alma. Estás finalmente comigo. Tenho-te junto a mim e é nosso, só nosso, este luar de estrelas e de folhas secas.

 

Carla Teixeira

4 de Outubro de 2005

 

Fragilidade.

Sou o meu maior inimigo!

Morrendo à tua sombra...

Tentação

Fogueira

 

Há dias de grande fragilidade. Dias em que acordamos fracos, doentes, com medo, à espera de um acontecimento que mude o curso do mundo, e o mundo dentro de nós. Esse mundo que sempre conhecemos, que cremos ter domesticado. Em vão saímos à rua, sem sairmos de dentro de nós, e percebemos então que tudo até esse dia foi o sonho de um ser adormecido, travando combates sem sentido, lutas impossíveis de vencer. Há dias com a aparência de semanas, meses ou anos de dor e mágoa. E há dias que não passam, o tempo que não melhora, as nuvens que não cessam no céu onde o Sol não consegue brilhar sobre nós. Há noites sem estrelas, como há dias só com vento, mas sem maré que nos empurre para a frente. Dias de frágeis quimeras que se desmontam diante de uma realidade atroz. Há um futuro que se desfaz, uma ilusão que se perde quando o medo ganha forma, e ganha força, e ousa mostrar-se a quem pensava não o conhecer. Há dias assim. Dias medonhos, em que sangramos no corpo, e mais na alma! Dias em que debalde nos debatemos contra um gigante chamado medo, que ameaça tomar conta de nós, dilacerar-nos as entranhas, roubar-nos o interior pungido dessa sangue que vertemos sem parar. Há dias de medo, e de angústia. Dias de amizade também, de mãos dadas, de sorrisos ternos. Há em mim dias assim. Dias de uma imensa fragilidade, em que um abraço, a cabeça pousada num colo amigo, num peito amado, sorrisos vossos e o teu olhar de candura fariam passar tudo. Quase tudo, que a luta anunciada é desigual. As forças posicionam-se no terreno, mas a dureza do combate adivinha um desfecho difícil. Verei os amigos sorrir-me nesse dia? Estarás tu comigo, quando esse dia chegar? Há momentos em que preciso de te sentir forte, se me sinto frágil. Há dias em que preciso de ti. Dias em que preciso ainda mais de ti...

 

Carla Teixeira

26 de Março de 2006

 

Não sei filtrar o medo. Há uma nuvem de pânico que toma conta de mim sempre que, como hoje, a claridade que desponta é brutalmente ceifada, logo à nascença, e rompe a luz no peito rasgado pela escuridão que vem de dentro de mim, do podre que há em mim, e da força que me falta para me vencer nesta luta. Sou o meu maior inimigo. É dentro de mim, nas entranhas de um corpo moribundo, que cresce o monstro que há-de devorar-me. Rio, falo alto, para o iludir. Para dizer que não sinto este medo que me consome, que alucina. Mas já nem sei sorrir. Grito, sufoco e deliro. Mato e morro em menos de nada! A cada segundo provo as lágrimas de toda uma vida, concentradas na minha mente, vertidas pelos meus olhos. Já não sei filtrar o medo. Não este medo. Não o medo que cresce em mim, na podridão do meu corpo, na cela lamacenta em que se transformou o meu pensamento. Não sei já quem sou, porque assim não me conheço. Há em mim um frio que não domino, um tremor que não controlo. Já não sei ver o Sol antes de ele nascer, e mesmo quando brilha sinto apenas que me ofusca. Ouço, ao fundo, cânticos de anjos, e penso que vêm para me buscar. Mas a melodia, só levemente dramática, diz-me que há-de libertar-se a minha alma deste torpor, e que na luz dos meus olhos, dos teus também, voltará a voar. E quero acreditar. Quero acreditar que chegará esse dia, mas o monstro assoma novamente às janelas do meu sonho, e diz que falta me cumprir o castigo da derrota. Falta provar a fealdade de mim mesma, do monstro que sou por dentro, e que cresce nas entranhas do meu ser, fútil e queimado nas areias do tempo, por medos irrisórios e sem sentido. Há momentos que ainda não vivi, e medos que tinha de experimentar. E a melodia, agora adensada pelos acordes de um piano cansado, diz-me que, mesmo que não consiga vencer-me, e vencer o podre que há em mim, terei ao menos de aprender a lutar. Assim decido. Lutarei.

 

Carla Teixeira

28 de Março de 2006

 

 

Ao redor da fogueira dos teus olhos,

Perdida em encantamentos

Novos e velhos,

Lanço o grito à minha liberdade,

E dela abdico

Para me prender a esse olhar

De cristal, terno e límpido como tu.

Na sombra da noite

Recortada em minguantes luas,

Caminho na luz de quem

Sabe o mundo ao contrário,

Sem dor nem lágrimas, sem tormentos

Nem fome de carinhos e de canduras...

Quando esqueceres o teu nome,

Lembrarás de mim aqui sentada,

Vendo no horizonte passar o navio

- Gostarias também de os ver,

Se aqui estivesses comigo -,

Queimando-te na mesma fogueira

Que me consome energias e sonhos.

Nesta praia, vendo o mar, me aqueço.

Ao redor da fogueira dos teus olhos...

 

Carla Teixeira

17 de Outubro de 2005

 

CARLA TEIXEIRA

 

Vem a tentação, nas mãos da feiticeira, tentar o poeta que se abandona na preguiça do silêncio, mergulhando em jogos mentais, eróticos e exóticos, que não conta a ninguém. Deita-se-lhe no colo, lambendo com os olhos o êxtase com que se delicia, e ver na trémula mão a mente inquieta do desejo. E ela o tenta. E ela o consome...

 

Carla Teixeira

29 de Dezembro de 2005

 

Silêncio.

Por ti, que és criança...

 

Vejo o Sol deitar-se ao fundo do dia, naquele ponto longínquo que só o olhar alcança, quando a Lua rendê-lo num céu polvilhado de estrelas. Ansiosamente, espero o sinal que me deixa caminhar, passo lento e coração apertado, em tua direcção. Devagar apresso-me no meu tempo, ao teu ritmo. Sei que à hora marcada estarás sorrindo no lugar que é nosso, embrulhado nessa graça que me desconcerta, e que no brilho dos teus olhos haverá algo que me fará sorrir também, morrendo à tua sombra. Nas ruas e às janelas das casas haverá vizinhos querendo espreitar-te, indagando quem sou e porque te aguardo ali, na serenidade que me empresta saber a tua chegada iminente ao ponto habitual. Não respondes, porque te escondes. Não falas, e é nesse silêncio que me assalta um mar de dúvidas de que me resgatas depois, acalmando as ondas de tormenta que me tolhem até ao momento em que te vejo sorrir.Sorris para mim, e é assim, nesse riso concertado, que me desconcertas e me fazes de pernas bambas, de medos mal disfarçados, de sorrisos conquistados à pressa no teu olhar, e nessas graças sem graça que contas às vezes. Dispo os medos, à luz da Lua, quando te deitas ao meu lado e me sorris assim, como encantado, sem saber tu que me encantas também. Ou sabendo que és tu quem encanta o luar e quem veste as estrelas de um brilho inusitado, despropositado, gigante e crescente. A noite vem então deitar-se sobre nós, assim aninhados no peito e na saudade que nos queima os corpos nus, e a mim a alma, calma, serenada enfim na tua presença. Olho o céu, esquecida por momentos de quem sou, e são tantas as estrelas que me falam de ti, e de nós, invadidos na luz enluarada do que somos aqui, no nosso verão cantado em odes e sonhos que me deixam abandonada em ti, na tua mão.Essa mão que me percorre o corpo, me afaga o rosto, me deixa assim, sentindo coisas sem sentido, vivendo tantas vidas valorosas num simples pulsar dos ponteiros de um relógio que corre apressado e logo me rouba o teu calor, e todo o carinho que sonhei colher da árvore que tens plantada no coração. Desce em mim toda a força do Universo quando me dás os teus olhos, e todas as dúvidas se convertem agora em certezas. São medos que então se transformam em poemas, revoluções perdidas no tempo depois de anunciadas. Dizes que são armas os meus olhos. Que te queimam por pousarem em ti o calor que emana de mim e te faz vítima do meu desassossego. Mas não sei desviá-los de ti, nem quero assim afastar-me, e é por isso que renasces a cada dia, e que em mim ganhas força de cada vez que vejo o Sol deitar-se ao fundo do dia, no ponto mais longínquo que o olhar alcança, e a Lua rendê-lo num céu de estrelas.

 

Carla Teixeira

30 de Dezembro de 2005

 

 

Silêncio. O som do nada, vazio, reticente. O silêncio que dói, a palavra seca, negada, sentida no sabor das lágrimas. Quero calar o silêncio, e amarrar-te num abraço suado da saudade. Não sou capaz. Há em mim qualquer coisa, um tremor, vacilando... E o silêncio. Esse som que não se ouve, e que mesmo assim queima os ouvidos. Esse nada que dói na pele e na alma, que ensombra os sorrisos que deixei por aí, perdidos, vazios. Sombras do que sou, ou do que fui. Nada. Só o silêncio me povoa. Só o vazio me enche. E o silêncio...

 

Carla Teixeira

29 de Agosto de 2007

 

O quadro

 

Entraste na praia por uma porta imaginada do meu coração. No areal a perder de vista foste caminhando, passos largos perdidos na serenidade que és tu, comigo a teu lado, no sobressalto que sou sempre. Deixei que a areia me beijasse os pés descalços, e a alma vestida de sonhos à espera de acontecer. Fomos ouvir o mar. Ouvi-lo apenas, que a noite não deixava vê-lo, e só a Lua dava permissão para, num esgar de olhos mais largo, assumir o ir e vir das ondas. “Está medonho o mar esta noite”, disseste. E senti, no pulsar do teu coração encostado à minha mão, pousada no teu peito, que tremias. Quis proteger-te do frio, dar-te o meu calor, e pintar na minha memória aquele quadro, nascido da tua candura e do meu desassossego. Corri maratonas sem sair do mesmo lugar, embrulhada de histórias que quis tornar interessantes para ti. Tu sorrias. E eu, vendo-te sorrir, inundei-me de uma paz meio doida, meio misturada com o sonho de não acreditar no cenário que ia desenhando na tela vazia do meu quadro.De novo deixei que a areia me beijasse os pés descalços, e deixei que me beijasses tu também. Desejei, naquele primeiro beijo, que o tempo parasse ali, e que, só para mim, a Lua se vestisse de uma luz quase diáfana, quase terna, mágica por estares comigo. Quis que ninguém soubesse, mas o mundo sabendo, o beijo que me deste. Quis tê-lo só para mim, mas partilhá-lo com as estrelas e com as pessoas que passavam na rua, ao longe, sem saber quem éramos, ou o quadro que pintávamos. Na tela, menos vazia agora, foi misturando as tuas e as minhas tintas, para pintar a magia de uma noite que tornou real um sonho, com o beneplácito da Lua e das estrelas, e com o mar cantando ao fundo, sussurrando segredos sem lágrimas. Misturei-me também no vinho, no fumo de um cigarro que fingi fumar, no tempo contado para um regresso sofrido e que quis tanto combater! Quis que o tempo parasse, no nosso primeiro beijo. Quis ficar assim, a mão na tua, os olhos nos olhos, o mundo sem existir.Pintei contigo um quadro e guardei-o para sempre em mim, na memória de quem sou e de onde sei que posso ir contigo. Parei todos os relógios, quis matar o tempo, e calei o bulício do mundo, para ouvir apenas o bater do teu coração, pertinho do meu ouvido. Descansei no cândido tremor do teu corpo. “É do frio”, disseste. Acreditei. Beijei-te. E quis beijar-te mais, tanto ainda, nem sempre na realidade como em desejo. Os barcos iam chegando à praia, e o dia ameaçava nascer e quebrar o encanto da Lua sobre nós naquela noite. Quis levar-te comigo para onde fosse, como te carrego agora sempre. Pedi-te, antes, um abraço. E, perdida nos teus braços que quis meus por um instante mais, voltei a deixar que me beijasses. E numa pincelada final, qual último suspiro que exala um condenado à morte, vi-te partir ao fundo da noite, quando te deixei no fundo da rua.

 

Carla Teixeira

29 de Outubro de 2005

 

 

Por ti que és criança, e tens no sorriso a graça das flores, por ti sei que deveria ter sido mais forte, mais dura, que não devias ter-me visto lágrimas que quis esconder-te. Por ti, que és um mundo dentro do meu mundo, não devia ter sequer soluçado, quando a vida ontem nos pregou uma finta, e fez derramar também desses olhos um choro que não te conhecia, que não tinha pouso na tua candura, nesse silêncio que és para os outros, que para mim és sempre gargalhadas. Ontem não foste. E das lágrimas que verteste, tornadas rio selvagem nas minhas, que as ampliaram, senti como minha essa dor que era tua, e que não soube escamotear. Fraquejei diante da tua insegurança, do teu medo, desse desespero em que nos tornaste. Ontem tive medo. Por ti, pelo que sei que és para mim, e pelo que senti ao ver-te chorar assim, sentindo a alma rasgar-se em gritos calados nessa respiração ofegante e sem ritmo que tomou conta de ti. De nós. Por ti, que és criança e tens a graça das flores, não devia ter chorado. Mas chorei, exactamente por ti, e por chorares assim. Não soube talvez ser forte como esperavas que fosse. Ou talvez não esperasses, e fosse eu a querer dar-te todas as garantias de uma felicidade que ainda não encontraste. Não queria que tivesses visto as minhas lágrimas, e não queria ter provado esse sabor amargo que tinham as tuas. Mas ontem chorámos, eu e tu, e eu também por ti. Porque és menina, porque não devias saber a que sabe a dor, como cheira, e como dilacera o peito, o teu chorando e o meu cortado pelas nuvens que atravessaram o teu olhar, não queria que me visses chorando assim. Mas fraquejei, e na hora de segurar a tua mão e de pedir que não chorasses, saltou-me dos olhos essa chuva de lágrimas, e tomou-me o peito uma dor que não sei descrever. Vi-te chorar e chorei, e sei que não devias ter-me visto assim. Porque és criança e trazes no sorriso a graça de todas as flores, não devias chorar nunca. E eu não devia ter chorado ontem, por ti, e por ter-te visto chorar assim…

 

Carla Teixeira

9 de Março de 2006

 

À minha Lalau

Quando sorris assim...

Gosto de ti.

Fruto proibido

 

Há um brilho,

Uma quimera,

Uma voz trôpega,

Um abalo na atmosfera

Quando chegas e sorris assim.

 

Há um tempo,

Um tudo e um nada

Que se fundem

E difundem

Quando sorris assim.

 

Há paz sem nuvens,

Dias sem tempo,

Chuva e sol mesclados

Na saudade que és tu,

Do teu sorriso assim.

 

Há em mim

Uma tremura feliz

Um sonho difuso e tão claro,

Um medo de que se apague

Esse sorriso assim.

 

Há um ir e vir a ti

E um não haver mais nada

E nesse sorriso

Há canções que cantas

Na voz de um anjo feliz.

 

Na liberdade do teu gesto

Vive preso o meu olhar.

E há tempo de ser

E tempo de ter tempo

Para te ver sorrir assim.

 

Sorris para mim,

Sorris assim,

E há no teu sorrir a quimera

E um não haver mais nada

Diante de um sorriso assim...

 

Carla Teixeira

14 de Fevereiro de 2006

 

 

Gosto de ti no sorriso

Que te adivinho e que me mata a saudade,

No dia que nasce,

Em cada gesto partilhado na ausência

Que somos, sempre presentes

Nos braços um do outro.

 

Gosto de ti quando acordas

E acaricias o meu rosto fingindo que dorme,

Mergulhado ainda num sonho encantado

Em que reis e princesas,

Fadas, magos e feiticeiras

Dão as mãos e trocam quimeras.

 

Gosto de te ver dormir, assim sorrindo,

Como se no mundo

Não houvesse relógio ou sofrimento,

Como se a vida corresse dentro de ti e de mim apenas,

Indiferente

Ao mundo lá fora!

 

Gosto de ti, assim sonhado

E de quando fazes do sonho verdade.

Quando renasces do meu desejo

E te fazes meu outra vez,

Meu para sempre.

Só meu!

 

Carla Teixeira

7 de Janeiro de 2007

 

 

Perguntas "o que é a distância?", mas não és tu que a percorres. Perguntas "que importa o dinheiro?", mas não és tu que o gastas debalde e inutilmente. Perguntas o que somos, e eu digo. Já não somos nada. Descobri-o há dias, à tua porta. Foi ali, tão perto, que percebi o longe que estava de ti. A poucos lanços de escada do teu abraço às vezes tão efusivo. E adivinho que o teria sido mais nessa noite, descoberta a saudade que só o ver-me de novo te recordaria. Mas não subi. Estive à tua porta, e nem tu saberás que lá estive, embora o tivessemos combinado horas antes. Não te vi. Não te vi nessa noite. Não te vi ainda este ano. Voltarei a ver-te? Não sei. Teremos acabado por aqui? Também não creio. Nem sei dizê-lo com a frontalidade a que me habituaste e eu te habituei sempre. Não sei para onde vamos, se vamos, se ficamos aqui. Eu aqui, tu aí. Não sei. Às vezes o fruto proibido é tudo o que desejamos. Às vezes é isso, outras não. Ou nem tanto. Às vezes o proibido fascina, conquista! Outras vezes dilacera, dilui e desfaz. Outras vezes nada disso. Apenas existe, e já nem deixa marcas. O fruto proibido é mesmo assim. E às vezes cansa.

 

Carla Teixeira

14 de Janeiro de 2005

 

 

Ouço o tempo pulsar na saudade, e a cada minuto dou o teu nome, sentada na espera em que ganhou forma de ser a vida que tenho e que só vivo se estás comigo. No relógio que bate implacável, ouço o ritmo do meu coração. E são horas que passam, lentas se estás longe, correndo quando me tens nos braços. Não sei que tempo é este, assim avariado, assim variando, e com o teu nome. Nas esquinas do mundo, esquecidas de nós, esgueira-se o tempo correndo. Esvai-se como areia levada pelo vento, veloz e em surdina, e então vais também, ainda que te faça cativo o meu pensamento...

 

Carla Teixeira

18 de Abril de 2006

Dei o teu nome ao tempo

Voltas no tempo

Há-de vir o poeta!

Não sei se te quero...

Saudade

 

Há-de vir o poeta.

Sentirá o meu chamamento

Aqui o espero, em silêncio contido,

Na ausência feita de saudade

E do tempo que afasta o sono.

Há-de sentar-se aqui, o poeta.

Falando e sorrindo, como ontem,

Como tantas vezes falou e sorriu.

Ouço o mar e a Lua

Que nele se deita, pensando como eu

Nas idas e vindas dos barcos,

Nas viagens feitas de lágrimas.

Há-de vir o poeta.

 

Carla Teixeira

Outubro de 2005

 

 

Não posso saber tudo. Não quero, nem posso. Não posso saber o que não contas, nem o que não ouso perguntar, com medo de que me magoe ou perturbe a resposta que deres. Preciso de saber que me queres, que me sentes como eu a ti, mas não sei. Preciso de saber se te quero também, ou se apenas te sinto como tendo de ser meu pelo gosto que me dá possuir-te. Procuro respostas, mas na mente sinto apenas desenhar-se dúvidas. Umas atrás das outras, pinceladas a giz, e às vezes bem vincadas a carvão. Duvido sempre. De ti, de mim, desse "nós" que às vezes queremos tanto, e outras queremos apenas recusar, e ter forças para viver sem ele. Não sei se te quero. Não sei o que sinto quando te sinto e quero em mim. Não sei, nem posso saber tudo. Mas dói não saber nada. Dói a solidão que me imponho, ainda que mascarada de independência e rebeldia. Dói cada madrugada de silêncios, cada noite de viagens dentro e fora de mim. Dói quando calas, e quando falas se o que dizes é despido desse sorriso e desses olhos que me dás tantas vezes. Sinto-te perdido, mas perdida ando eu também nesse mundo que me desafia a decidir o que não sei escolher. Não sei nem posso saber tudo. E ainda não sei se te quero para sempre, ou se te quero apenas tanto como agora, mesmo que seja apenas por um momento. Sei que te quero, sei que me bastas. Sei que te adoro, e sei que não sei por que razão me faço tantas perguntas, e tantas barreiras. Não te sei ainda. Não te conheço. Já nem me conheço! E não sei se te quero.

 

Carla Teixeira

14 de Maio de 2005

 

 

Calou-se o vento. Agora ouço apenas, latejando no interior de mim, essa saudade de ti, assim sonhando, que é de dormir a hora que passa…Sinto-me tremendo, se tremenda puder ser a dor de te saber longe, ainda que o pulsar do meu peito diga que estás aqui, sorrindo esses sorrisos que são teus e nossos quando caímos nos braços do amor e nos deixamos adormecer enlaçados. Que saudades sinto de ti, timoneiro do meu barco, dono do meu mar! Como te sinto perto, falando-me em tom carinhoso ao ouvido, mesmo se olho e sei que não estás aqui agora. Agora que se calou o vento, e que o calor volta a tomar conta dos corpos abandonados no sonho da madrugada, ainda os olhos tenho bem abertos e já tu entras pela vontade de te sonhar nesta noite. Sou tua, sonhando acordada com esse momento que há-de ser o do reencontro. Adivinho o sabor dos teus beijos, e esse sorriso que é teu, e que é nosso quando chego e me deixas entrar no teu mundo. Amo-te, sabes?

 

Carla Teixeira

25 de Julho de 2008

Nasce o poeta...

 

Ganha-se quem assim se perde, vertendo em palavras o sumo da vida, essa existência tão alucinante quando egoísta tantas vezes. Faz-se o poeta desse sonho que se mistura com ele mesmo, e com o poder das emoções travestidas em sílabas alinhadas no silêncio da alma. Dá-se o homem ao sonho, e da magia que floresce dessa dádiva brota a sinceridade de quem ousa ser. Ser simplesmente, ou viver recusando existir apenas. Nasce o poeta nas odes de um grito que ecoa no fundo de ti. Um grito a que não resistes nem ofereces luta. Deixas-te fluir na bruma que toma conta de ti, e nesse calor que emana do teu olhar, esquecido, quase lânguido, não fosse o silêncio e a distância que nos agrilhoa, pesadas, as almas condenadas. Tenho sempre saudades tuas. 

 

Carla Teixeira

Outubro de 2005

 

 

O mundo é tão grande, difuso... E é tão frágil a minha magia! E esse sorriso que visto para ti, e que de ti escondo, tão vulnerável como a areia diante da tormenta do vento. Há dias em que me sinto imensa e graciosa, e outros, depois, em que tudo em mim é assombro, medo, dúvida, pergunta sem resposta. Quando abro a porta do meu mundo e entro no mundo do resto do mundo, sinto-me pequena, assustada, insignificante, um receio e quase uma mentira... Há tanto que sei não saber, e tantas coisas que aprendi no sabor do teu sorriso, no encantamento dos teus olhos e no aroma do teu abraço de mel e mil cores. Não sei coisas tristes quando pouso os meus olhos nos teus, e ainda assim sei que choro... Sei que há em mim uma espécie de estranheza, porque só uma pessoa estranha choraria sem saber por que razão, sem saber se está alegre ou triste, sã ou louca. E no entanto choro, e choro quando sorrio. Lágrimas que não se vestem de tristeza ou lamentos, mas de carícias lembradas, momentos que regressam a mim a cada sorriso que te faz meu.

Sei que deve ser loucura, mas sei quem és, e sei quem sou quando me dás a tua mão e me levas a voar no teu beijo. Vejo a tua aura, a nuvem de ser magia que te envolve, e então sei quem tu és, e que és como eu, impregnado dessa quase estranheza que nos transporta para o nosso mundo, fora do mundo do resto do mundo. Inexplorado, és ainda um estranho para ti, e para mim já não tanto. E tudo o que és, o que te dizes, fazes e constróis, é teu. O bom e o mau que pensares, o dia e a noite que em ti sejas capaz de concretizar é para ti. Não és inofensivo. Não mais do que és perigoso. Mas podes silenciar as tuas armas, e vestir a armadura só se a batalha for incontornável. O teu tempo nasce no teu gesto, na tua fronte franzida ao vento, olhando o mar. E em ti me perco eu pensando, sonhando e sendo o que sonhas que eu seja. Sentada nesse tempo que me dou, e voando nas asas da filosofia, finto os meus temores e parto em busca do eu que perdi. Perco-me dentro de mim, mas tu encontras-me sempre no teu sorriso...

 

Carla Teixeira

5 de Novembro de 2006

 

Frágil.

Saudade

 

O mundo é tão grande, difuso... E é tão frágil a minha magia! E esse sorriso que visto para ti, e que de ti escondo, tão vulnerável como a areia diante da tormenta do vento. Há dias em que me sinto imensa e graciosa, e outros, depois, em que tudo em mim é assombro, medo, dúvida, pergunta sem resposta. Quando abro a porta do meu mundo e entro no mundo do resto do mundo, sinto-me pequena, assustada, insignificante, um receio e quase uma mentira... Há tanto que sei não saber, e tantas coisas que aprendi no sabor do teu sorriso, no encantamento dos teus olhos e no aroma do teu abraço de mel e mil cores. Não sei coisas tristes quando pouso os meus olhos nos teus, e ainda assim sei que choro... Sei que há em mim uma espécie de estranheza, porque só uma pessoa estranha choraria sem saber por que razão, sem saber se está alegre ou triste, sã ou louca. E no entanto choro, e choro quando sorrio. Lágrimas que não se vestem de tristeza ou lamentos, mas de carícias lembradas, momentos que regressam a mim a cada sorriso que te faz meu.

Sei que deve ser loucura, mas sei quem és, e sei quem sou quando me dás a tua mão e me levas a voar no teu beijo. Vejo a tua aura, a nuvem de ser magia que te envolve, e então sei quem tu és, e que és como eu, impregnado dessa quase estranheza que nos transporta para o nosso mundo, fora do mundo do resto do mundo. Inexplorado, és ainda um estranho para ti, e para mim já não tanto. E tudo o que és, o que te dizes, fazes e constróis, é teu. O bom e o mau que pensares, o dia e a noite que em ti sejas capaz de concretizar é para ti. Não és inofensivo. Não mais do que és perigoso. Mas podes silenciar as tuas armas, e vestir a armadura só se a batalha for incontornável. O teu tempo nasce no teu gesto, na tua fronte franzida ao vento, olhando o mar. E em ti me perco eu pensando, sonhando e sendo o que sonhas que eu seja. Sentada nesse tempo que me dou, e voando nas asas da filosofia, finto os meus temores e parto em busca do eu que perdi. Perco-me dentro de mim, mas tu encontras-me sempre no teu sorriso...

 

Carla Teixeira

5 de Novembro de 2006

 

 

E se a saudade te encontrar na minha ausência, e vestida de vento vier roubar-te a calma, sugar-te a alma e soprar-te em gritos moribundos a vontade que tens de mim? Se a chuva batendo na tua janela te soprar o meu nome, que dirás aos teus ouvidos e como secarás os teus olhos, tão distantes do que somos? Se todos os cânticos e essa música que se passeia em ti se calar para te dizer que estou longe, sentirás o amargo da minha ausência? Se o chilrear dos pássaros te lembrar risos de crianças, e o meu sorrir ecoar entre o delas, ousarás confessar que me ouves chamar por ti? Sentirás o calor que me aperta as entranhas e me corrói o pensamento ao pensar no que és em mim e para mim? Saberás que estás aqui também quando és ausência, e que o vento me conta, como se fossem teus, os dias que se esvaem lentamente na distância que o tempo nos impõe? Ouves os pássaros contar-te os meus segredos? Que te dizem eles, mensageiros dos meus receios, das tontearias que pintam os meus dias, longe de tudo o que quero ter perto? Ouço-os agora, quando estás em silêncio. Dão-me sinais de bonança e emprestam tranquilidade ao meu pulsar frenético e cansado da espera. E surge em mim a certeza de que há tesouros, simples e bonitos como tu e como eu. Sei então que a ausência é o preço – baixo – da tua cândida presença e da comunhão de dias e de noites que nasceu em nós, brotando como flores silvestres no descampado que eram os nossos corações. E quando a saudade me encontra, e vestida de vento vem roubar-me a calma, sugar-me a alma, sou eu que grito o teu nome, esperando que aí, na ausência que és de mim, ouças o eco do meu desvario. O que prometo aos meus olhos não sei. O que escutam os meus ouvidos não questiono. Sei que só a tua voz ecoa no meu peito, e que é tua a ausência que dói na minha alma. E na imensidão do tempo que se esvai lentamente por entre os dedos das minhas mãos, como areias de uma praia deserta e distante, diz-me a Lua que também me esperas, guardando toda a saudade num baú de ouro que escondes do mundo. Estás quando não estás, e és o que nem sabes em mim. És o grito que grito no meu silêncio, e o sol que desbrava as nuvens da saudade, rasgando em retalhos a ausência que és. Porque estás também aqui, mesmo quando não estás...

 

Carla Teixeira

3 de Abril de 2006

 

Ausência

 

Quando damos de frente com a morte, quando vemos aquele túnel de luz branca e sentimos pender sobre nós o fio cruel da sua espada e o sangue que jorra da ferida causada pelo cravar das suas garras na pele que nos reveste, sentimos finalmente a vida. Cada suspiro exalado no sofrimento da caminhada – e cada passo parecia o último – e cada lágrima nascida nesse desafio confere-nos um sentimento novo, de uma certeza dolorosa mesclada de medo. É nesse momento, quando sentimos que a morte nos chama, vestindo acintosamente cada um dos sorrisos que nos rouba, e a curta distância soletra as letras do nosso nome, que finalmente descobrimos que o essencial é estarmos vivos. Só vive realmente quem se imagina já morto. É assim que a vida ganha terreno à morte, quando dentro e fora de nós se trava a maior luta e a mais desigual das batalhas.

No momento em que sentimos esvair-se em cada poro a última réstia de força, nos nossos olhos passa o filme da nossa vida, e nele desfilam, por passerelles distintas, os que amamos e os que nada nos dizem, pelo menos aparentemente. Não foi há tanto tempo assim que pelos meus olhos se passearam as pessoas que fazem viva a minha vida. Num desfile confuso de caras e de expressões, de momentos bons e menos bons, de lágrimas e de sorrisos, entraram no meu filme os meus amores e os meus ódios, os meus medos e as minhas fontes de energia. Venci a batalha. No dia em que a morte me chamou consegui apagar a luz branca daquele túnel, e dele trazer apenas o que de melhor a vida me deu. Esqueci os azares, aquelas fontes de stress do quotidiano, as coisas que pareciam importantes. Importante, pensei, é isto de estar viva. Estou viva. Renasci, e estou cá para durar. Fiz-me essa promessa no dia em que nasci de novo. E agora que sei que o mais importante de tudo é estar viva, agradeço a todos os que me apoiaram neste momento difícil, e ainda mais a todos quantos fazem da minha vida muito mais do que uma mera existência.

 

Carla Teixeira

17 de Fevereiro de 2008

É quando escapamos à morte que sentimos a vida

Ouvi dizer que o amor não dói...

 

Ouvi dizer que o amor não dói. Que, como os músculos que nos enchem o corpo, se contrai e distende à medida dos sonhos. Que se renova em cada sorriso, que ganha força em cada olhar e em cada gesto. Ouvi dizer que cada pequeno nada se transforma em tudo quando amamos, e que o tudo se converte numa ínfima parte desse nada que é mundo, que não chega a existir fora de nós. Fora de nós não há mundo. Longe de ti não há tempo, nem sonhos, nem fúrias. Há apenas vazio, e distância, e saudade. Há temor, tremores, suores frios e dores de estômago. Como se em nós vivessem apertadas todas as dores e todos os males do universo, esse que também não existe sem ti. Ouvi dizer que o amor não dói. Mas ouvi dizer tanta coisa! Tantas e tantas outras coisas! Quando partes há tanta coisa que levas contigo e tanta que deixas ficar, que não sei o que regressa quando regressas tu e me dás de novo esse olhar e me pedes um beijo. Gosto quando me pedes um beijo. Gosto quando sorris, quando te sinto inebriado em mim e na paz que te dou, porque sei que ma devolves, e porque ma devolves tantas vezes sem que ta tenha ainda entregue. Confio em ti, e nesse querer que é nosso. Mas não creio na tua constância, e dói sentir que partes de mim quando te vais. Que és meu quando estás, mas que depois te somes no vento, quiçá atrás desses outros sonhos que sonhas. Ou das insónias que eles te desenham, como ontem. Vi-te apressado no desespero de dormir sem conseguires, vi-te chorar por dentro, pedir ajuda. Vi-te pedir colo, mesmo sem falar. Vi dor nos teus olhos, que não quiseste contar. Ouvi dizer que o amor não dói, mas quando te sinto quebrar quebro também. Será porque não te amo? Ou será que te amo demasiado? Por que razão me dizem que o amor não dói? Porque me contam mentiras e me rasgam os sonhos com perguntas sem resposta? Por que motivo tens de partir, e não hás-de ficar sempre aqui, dormindo e acordando comigo, ao meu lado? Por que razão choravas por dentro naquela noite? Quem te roubava o sono e te deixava apressado na bruma, fumando à janela do quarto onde já rompiam os primeiros raios de sol? Porquê? Que segredos escondes? Será que mentes como mentiu quem me disse que o amor não dói? É que ele dói. Tu magoas-me. Tu, que vives em mim e me rasgas o peito sempre que apareces e te vais depois. Não sei quando regressas. Não sei se voltarei a mim eu também. Sei que me mentiram, porque amar também dói, embora a dor se dissipe num olhar ou num sorriso. É a maior dor do mundo, mas também a mais fácil de curar. Gosto quando me pedes um beijo. Tudo passa quando me pedes um beijo…

 

Carla Teixeira

18 de Maio de 2005

 

 

Foi ali, na sombra da Lua, o luar coado pela copa das frondosas árvores entregues ao vento, que te vi sorrir assim. Vi-te chegar com a chuva que brilhava no alcatrão, como os teus olhos pousados nos meus. E neles trazias a paz e a beleza de todos os arco-íris pintados no mais azul de todos os céus. Foi ali, assim entregue ao calor dos teus braços, que me contaste histórias de rir e de chorar, de gente que não conheço e que nem tu conheces bem. Nos teus olhos ganhei asas e voei até ao teu sorriso, que me deste quando te dei o meu, amplo e genuíno como a luz que irradia de ti e se pousa em mim para iluminar os sonhos que tenho, e que tu povoas com a graça de quem caminha como que dançando. De mãos dadas contornámos o castelo de que somos visitantes, mas também detentores. Olhos nos olhos, sorrindo e brincando, demos, eu e tu, a magia coada pela luz das estrelas rompendo as folhas das árvores dançando ao vento, escutando a música que nascia nos nossos corações.

 

Carla Teixeira

27 de Novembro de 2006

 

Magia no castelo

 

Dei voltas no tempo, revolvi a alma e quis esvaziar as gavetas da memória, mas nada te levou para longe de mim, ou do meu pensamento. Longe sei que estás, dormindo e sonhando talvez, mas é tão perto que te tenho, que sinto na minha mão o bater do teu coração. Como se estivesses aqui, que estás não estando. Como se hoje fosse ainda o ontem em que um beijo selou o nosso último “até já”. E parece ter sido já há tanto tempo! Corre o tempo mais do que eu e tu, e do que podemos correr para abandonar os braços um do outro. É fugaz, esvai-se furtivo quando estamos juntos, e caminha tão lento quando a distância nos separa, sem tolher a saudade que existe em mim de nós, mesmo se o nós existe. É da cor da saudade o peito que carrego ardendo, como em chamas, e de ansiosa frustração o relógio que propositadamente esqueço, porque não quero saber o tanto que falta para te ver sorrir de novo à minha chegada.

 

Carla Teixeira

28 de Julho de 2006

 

O encontro foi breve, fortuito, quase secreto. Ali, em poucos minutos, dois amigos voltaram a sorrir, trocaram palavras e gestos de carinho, e lembraram momentos, tantos, partilhados ao longo de anos. Foram apenas minutos, é verdade. Mas foram minutos que bastaram para que ambos soubessem que "para sempre" é mais do que uma frase ou uma intenção. "Para sempre" é uma realidade que vive nos seus corações. Até amanhã, N. Até sempre.

 

N.

 

Apagam-se no céu as estrelas, e mergulho na noite como ela em mim. Ainda me dás os teus olhos. Ainda sorris. Deixas-te ficar, recortado no luar tímido que nos percorre a face ruborizada, no tremor contagioso que nos varre os corpos antes sedentos, agora saciados, e mesmo sem conseguir vê-lo adivinho-te um sorriso.

Em mim há lágrimas, mas de alegria. Sorrio na alma como choro nos olhos. E sei que depois de te amar já não haverá segredos na beleza do mundo, nem olhares e sorrisos que assim possam encantar-me. Lá longe, no tempo que não quero, nada restará de mim na memória do mundo, varrida a areia que sou na imensidão do universo.

Depois de te amar qualquer amor será breve. Demasiado breve. Depois de ti qualquer amor será insípido, amargo, estúpido. Despida a minha mão da tua, será silêncio o azul do céu, apagado o voo ágil das gaivotas, e desconhecido o odor da maresia, e o efeito que empresta aos corpos, aos nossos corpos, deitados na areia, já saudosos do abraço findo agora mesmo.

Depois de ti, tudo é vazio, sem sentido, sem cor nem brilho. E a pobreza das palavras, que tantas não chegam para dizer o que sabes que quero dizer-te, contrasta com a riqueza das almas, puras e sentidas, sem véus nem segredos. Porque te digo com os olhos, com gestos e sorrisos, com medos, gritos e tantas frases que ficam por dizer, que depois de ti é o vento sem vento, um mundo sem nome.

Como a brisa que chega sem o aroma das rosas acabadas de florir, sem o cheiro da terra molhada, sem esse sorrir do teu sorriso. Depois de ti, depois de te amar, há-de vir o vazio. O tempo cortar-se-á em fatias, e a vida dilacerar-se-á em lágrimas de saudade.

Tudo será nada, se as flores não tiverem o teu cheiro, como agora têm e como eu o sinto. Ou se os ponteiros do relógio não apontarem os minutos que te guardam de mim. Depois te ti, só o medo. O vazio, o nada. Depois de te amar, mergulho na noite. E ela em mim...

 

Carla Teixeira

17 de Agosto de 2006

 

Depois de te amar...

Amor. Amar.

Uma flor

 

Procurei uma flor para ti. Procurei-a em tantos lugares. Espreitei campos e jardins, percorri tantas estradas em busca de algo belo como o rio de afectos que nasce em ti e desagua no mar do meu contentamento. Perguntei por ela, nas ruas, à gente que passava. Indaguei cantos e recantos, tempos e espaços. Corri, quis violentar o relógio para poder perseguir a flor que quis oferecer-te, e o sorriso com que sei que a receberias, com a tua mão pousada na minha. Na busca exasperei, desesperei... Senti-me gritar ao mundo que não é verdadeiramente mundo um mundo despido de flores. Dei-me então à tristeza, e cheguei a ti sem a flor que quis tanto dar-te. Sorriste, como se na verdade a levasse, quando fiz o gesto de ta oferecer. E sugeriste um beijo, sorrindo uma vez mais. E na sombra de um primeiro abraço, foste para mim a flor que fui também aos teus olhos. Dei-te uma flor.

 

Carla Teixeira

 

Para a Raquel...

 

O coração tem tesouros escondidos,
Guardados em segredo,
Selados em silêncio.
Tu és um desses tesouros,
E haverá sempre em mim,
No meu coração,
Um cantinho especial para ti.
Por isso descubro em ti, a cada dia que passa,
Uma irmã que podia ter tido.
A irmã que escolhi!
Por isso insisto em partilhar contigo
Histórias e momentos,
Sucessos que contentam o coração,
Feridas que rasgam a alma,
Alegrias e desatinos,
Tristezas e desvarios...
Por isso é importante que estejas comigo hoje.
Que estejas comigo sempre.

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