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REPORTAGEM PUBLICADA NO JORNAL «O PRIMEIRO DE JANEIRO» EM DEZEMBRO DE 2006

 

PAULO MORAIS E NARCISO MIRANDA DEFENDEM MUDANÇA NO FUNCIONAMENTO DOS PARTIDOS

“Faltam espaços de liberdade”


Portugal vive actualmente num cenário “pantanoso” em que a censura ganha terreno e o delito de opinião volta a instalar-se. Os partidos fecham-se e contestam o que vem de fora. Faz falta pensar livremente. Paulo Morais e Narciso Miranda concordam neste ponto.

 

CARLA TEIXEIRA

Representam os dois maiores partidos portugueses, muito diferentes e em quase tudo adversários, mas numa coisa estão de acordo: os aparelhos partidários, sendo úteis e necessários, não estão a funcionar correctamente em Portugal e têm de ser alterados. Na actual conjuntura os partidos políticos portugueses fecham-se demasiado em torno da sua vida interna, por vezes triste, e contestam tudo o que vem de fora. São muitas vezes meros “bandos de assalto ao poder”, esquivos à necessária abertura ao exterior e parcos em espaços de liberdade de pensamento e de expressão. Faz falta na actual cena política nacional que um militante de um qualquer partido possa dizer tudo o que não choque com o ideário da estrutura que representa.

À conversa com O PRIMEIRO DE JANEIRO à margem do jantar de encerramento do segundo ciclo de conferências do Clube dos Pensadores, que teve lugar anteontem à noite em Matosinhos, Narciso Miranda (PS) e Paulo Morais (PSD) confluíram na convicção de que espaços como o que o biólogo Joaquim Jorge coordena, com a realização de debates transversais em que já participaram figuras de todas as forças políticas nacionais, sem entraves nem travões ao que quer que quisessem dizer, “fazem falta” para lutar contra o avanço de uma nova espécie de censura.O primeiro de forma mais branda e o segundo de modo mais inflamado concordaram que “o esquema de funcionamento dos partidos tem de mudar”, admitindo que eles se fecham demasiado sobre si mesmos, pecando na falta de abertura à sociedade que, no reverso da medalha, traz também o distanciamento dos cidadãos relativamente à prática política.

Mas Paulo Morais vai mais longe, e garante que a abertura ao exterior “não é suficiente”. Questões como o financiamento e os estatutos dos partidos têm de ser repensadas, e nesse aspecto, recordou, “a revisão estatutária em curso no PSD é um excelente exemplo de participação activa na vida interna do partido”. Não obstante essa mais-valia, concorda que os dois principais partidos nacionais sofrem do mesmo mal: “Há falta de liberdade, e volta a ganhar forma o delito de opinião. Se os dirigentes pensam branco, os militantes pensam branco, mas se a direcção muda para preto, os seguidores mudam também. São vira-casacas que anuem sempre ao que diz o líder”. Instado a comentar se essa «disciplina de militância» pode minar a vontade de acção dos políticos e tolher o interesse dos cidadãos pela vida política, Paulo Morais afirma que “a censura não teria feito melhor papel” nesse aspecto.

TERTÚLIAS A NORTE


No encontro de anteontem, em que, como vincou a directora do JANEIRO, Nassalete Miranda, “pensar parece incomodar, e reflectir parece ser um verbo errado no nosso léxico”, os dois oradores, como os restantes cerca de 80 participantes no jantar, foram concordando na ideia de que é necessário o ressurgimento dos movimentos cívicos e das associações transversais que, como o Clube dos Pensadores, chamam à esfera social a discussão de temas relevantes para a vida das pessoas. Narciso Miranda não hesitou em definir-se como “um homem de partido e um homem de aparelho”, frisando que “os partidos existem e têm de ter aparelhos, embora alguns funcionem de forma redutora”, acrescentando que “os clubes devem ser complementares e decisivos para a saúde dos próprios partidos”.Exortou depois o clube presidido por Joaquim Jorge a dar continuidade ao percurso traçado até aqui: “Chegar aqui foi fácil e importante, mas o percurso tem de continuar, agora com maiores responsabilidades do que quando foi criado. Há que reunir energias e preparar, para o futuro, um programa mais arrojado e mais ambicioso”. Ao JANEIRO, tanto Narciso Miranda como Paulo Morais enalteceram a importância de o Norte do País estar representado em tertúlias como as que o Clube de Pensadores vem dinamizando, com o ex-vereador da Câmara Municipal do Porto a citar exemplos como a Tertúlia das Antas ou o Clube da Via Norte.

REGIÃO NORTE: "ESSENCIAL RESGATAR INFLUÊNCIA PERDIDA"

 

À margem do jantar do Clube dos Pensadores, Narciso Miranda congratulou-se com a existência, no Norte, de “núcleos de cidadania com capacidade para gerar espaços de debate necessários sobre temas actuais para a região e para o País”, salientando que “debater e construir ideias são mensagens importantes para contrariar o “desenfreado centralismo”. O ex-presidente da Câmara Municipal de Matosinhos lamentou também que o Norte esteja hoje “tão apagado como nunca esteve”, frisando que “é essencial reganhar a influência perdida” e projectar a força da região para conseguir para as populações o que elas merecem. Para Narciso Miranda, o Clube dos Pensadores “deve debater tudo. As questões relacionadas com o Norte devem ser abordadas numa perspectiva nacional, porque o País será tanto mais forte e coeso quanto maior for o desenvolvimento nesta região”.

NOVAS PERSONALIDADES


Depois de Narciso Miranda ter garantido que não pretende fomentar “uma guerra com Lisboa”, Joaquim Jorge contou ao JANEIRO que “o clube tem âmbito nacional e tem sempre convidados de Lisboa”. Visivelmente orgulhoso pelo “modelo americano” que transportou para a realidade lusitana, o biólogo congratulou-se com o facto de o clube conseguir sempre gerar uma dinâmica positiva com a audiência de cada debate, pois “é na assistência que estão as pessoas com mais valor, e que convido a aparecer e a intervir”. Consumada anteontem a adesão ao clube do ex-presidente da CCDRN Lino Ferreira, Joaquim Jorge adiantou que para o próximo ciclo estão já confirmadas as presenças de Rui Sá (PCP) e Álvaro Castello-Branco (CDS), mas o JANEIRO apurou que também Manuel Maria Carrilho deverá dissertar sobre questões ligadas à Cultura.

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