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Gente apaixonada: a gente de que eu gosto!

  • Foto do escritor: Carla Teixeira
    Carla Teixeira
  • 22 de ago. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 27 de ago. de 2022


Se há coisa que cerca de uma década de Jornalismo e de aproximadamente cinco anos a lidar com o atendimento ao público me ensinaram é que as pessoas não são todas iguais. Que há aquelas pessoas que fazem a diferença em tudo e em todos à sua volta, que são sempre polidas e educadas, mesmo perante audiências difíceis, que espalham graciosidade, que exalam competência e transpiram empatia. Pessoas, em suma, que fazem alterar a luz de cada sala em que entram. E que depois há as outras pessoas, que se limitam a estar ali, de corpo presente, empurrando cada momento com a vontade do momento seguinte, em que finalmente deixarão de estar ali e passarão a estar noutro sítio qualquer, a que emprestarão o mesmo ar inútil a tudo o que tocarem.


Gosto de pessoas apaixonadas. Que se entregam, que se rasgam por dentro para ir mais longe e fazer melhor. Que observam, absorvem, estudam e reflectem, que estrebucham mesmo sem gritar, que gritam sem sequer abrir a boca, que dão um passo mais do que as outras com a naturalidade de quem sente que apenas fez o que podia, o que estava ao seu alcance, para tornar um pouco melhor o seu dia, ou o dia de alguém ali ao lado. Gente apaixonada vai além dos seus limites todos os dias. Gente apaixonada cresce em todos os momentos, e faz crescer todos aqueles com quem se relaciona. Gente apaixonada é grande, mas faz-se pequena se isso ajudar a trazer mais magia ao mundo e ao outro.


Num certo início de noite, há muitos anos, fui incumbida, enquanto jornalista, de fazer uma entrevista ao encenador Filipe La Feria e à actriz Rita Ribeiro. Em cena no Coliseu do Porto o espectáculo «Maria Callas», onde cheguei alguns minutos antes da hora para a qual a entrevista tinha sido agendada. Espantou-me, a mim e a todas as pessoas que naquela noite contactaram o Coliseu para reservar bilhetes para o musical, que fosse La Feria, o próprio, na sua voz inconfundível, a atender os telefonemas. Todo ele sorria ao afirmar que sim, que era ele mesmo. Aquele homem exalava, por todos os poros, a imensa paixão que tinha pelo trabalho que fazia. La Feria é, estou em crer, de todas as pessoas que já conheci e entrevistei, a mais apaixonada pela profissão que abraçou.


É um exemplo, apenas um, mas grandioso, de como a paixão pelo que fazemos nos faz ser também mais felizes. Gente apaixonada é dedicada, é competente, é interessada, dá-se a tudo a 100%, às vezes mais, pois é gente dada ao exagero, em bom! É gente que cresce com todas as experiências, que partilha o seu saber com todos os que estão à sua volta. Gente apaixonada é mais feliz e mais empática. É gente que tem coração e que o usa para um objectivo bom, de afirmação, de contínua melhoria própria e alheia. Gente apaixonada partilha saber, não o exibe de forma gratuita. É gente que se gosta, gente que se admira, porque sabe o seu real valor, mas que não se deixa ofuscar pela sua grandeza para tolher a dimensão do outro, seja ela qual for. É gente grande. É a gente de que eu gosto.

 
 
 

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