Da "modernice" dos carros sem pneu suplente
- Carla Teixeira
- 11 de abr. de 2022
- 3 min de leitura

Admito que muitos possam considerar-me conservadora em alguns aspectos. Tenho naturalmente alguma resistência a mudanças e há de facto "modernices" que me causam bastante urticária. Uma delas é a opção de cada vez mais construtores automóveis pela não inclusão de um pneu suplente nas viaturas que produzem. Uma decisão que, dizem, assenta em vários factores e que visa oferecer ao proprietário/condutor da viatura maior simplicidade, segurança e eficácia. Só que é aí que a porca torce o rabo...
Eficiência
Alegam os defensores desta ideia que a eliminação do pneu suplente permite reduzir o peso total da viatura, e por essa via o consumo de combustível e as emissões de dióxido de carbono. Parece, efectivamente, um bom argumento. Ok!
Conforto e habitabilidade
Não havendo a necessidade de incluir o suplente na bagageira aumenta o espaço disponível para carga, o que em determinadas viaturas poderá ser efectivamente relevante, se a bagageira for diminuta. Só que já existe, há mais de 20 anos, uma resposta eficaz para esse problema, que tem vindo a ser implementada por muitos fabricantes: a colocação do pneu suplente por baixo do carro, com recurso a um mecanismo que permite soltá-lo quando for necessária a sua substituição.
Fica o pneu sujo pelo contacto com o ambiente, pó e água na estrada? Fica. Mas convenhamos: em situações normais passamos anos sem necessidade de trocar um pneu (eu, que conduzo regularmente desde 1998, troquei cinco pneus em toda a minha vida e nos seis automóveis que tive, e há quase 10 anos não sei o que é mudar um pneu). Depois, quem precisa de uma bagageira grande tem de comprar um carro com uma bagageira grande, e não esperar conseguir fazer milagres num Fiat 500!
Gestão do tempo
Outro argumento dos iluminados que defendem a ideia de banir o suplente é o "tempo desperdiçado" na troca de um pneu. E então para estas pessoas coloco o seguinte cenário, infelizmente muito mais comum do que poderá pensar alguém que não lida com carros todos os dias: um automóvel de alta gama, sem suplente e que oferece no seu lugar um kit com um compressor que só resulta em furos visíveis apenas ao microscópio. Fura o pneu, por exemplo, num sábado à hora de jantar.
O condutor chama a assistência em viagem, porque o kit não vai reparar o furo, que não é milimétrico. Fica à espera do reboque, que depois carrega a viatura e a leva num tour pelas oficinas, poucas ou nenhumas, abertas àquela hora. Nas duas que encontra confirmam que o pneu não é reparável, mas não têm igual para substituir. Porque no dia seguinte é domingo, continua tudo fechado e a pessoa continua com o carro em cima de um reboque ou à porta de uma oficina.
Na segunda-Feira vai à dita oficina para encomendar o pneu, mas só conseguem garantir a sua entrega na terça-feira. Até lá, o homem ficou sem carro. Tem um popó todo xpto mas tem de andar a pé ou de Uber durante três ou quatro dias (mesmo na aparentemente mais eficaz opção pelos pneus Runflat da BMW, que permitem a circulação da viatura mesmo com um pneu furado durante alguns quilómetros, ninguém pode andar três ou quatro dias, fazendo a sua vida normal, com um carro que tem um pneu furado!).
Se isto é conforto, eficácia e segurança, então eu sou mesmo antiquada e conservadora e, algo com muito mais charme, uma pessoa do contra! É isso, deve ser problema meu...
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