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Suicídio.

  • Foto do escritor: Carla Teixeira
    Carla Teixeira
  • 8 de out. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 15 de fev. de 2021


Tenho profundo respeito pelas pessoas que cometem suicídio. Pelas pessoas em geral, entenda-se, mas também por aquelas pessoas que muitos vêem como fracas ou incapazes. A busca da morte como escape a um estado de sofrimento atroz, tantas vezes escondido, camuflado dos demais, mesmo dos que estão mais próximos, é um bicho que nos consome por dentro. Aquela vontade de largar tudo, de desaparecer, de simplesmente deixar de existir, consome-nos desde as entranhas, como um demónio que nos povoa a existência e nos impele a pôr fim a uma vida que, pensamos, não passa de uma mera existência.


Sim, já tive vontade de morrer. Felizmente, sei agora, não tive a força e a coragem para aliar os meus actos à vontade enorme que sentia de estar noutro lugar que não neste. Numa dimensão onde a dor se tornasse paz, e harmonia, e música no coração. Felizmente, como felizmente me sei hoje viva, a morte que senti cá dentro não venceu a luta contra o discernimento de ficar por cá, de resistir, de continuar a lutar e a ter esperança no futuro.


A profunda tristeza - não lhe chamo depressão, porque não quero usar termos técnicos de uma ciência que não é a minha - de não me sentir viva, mesmo acordando todos os dias e tendo intacta a capacidade de respirar, não me venceu, felizmente, e o resgate a este estado de apatia motivado pela maior perda que sofri desde que me lembro de ser gente - a morte prematura e inesperada do meu pai, em 2012, fruto de uma doença genética de que nem sabia sofrer - aconteceu no momento em que, em 2017, me vi sujeita a um novo evento traumático e de provação na minha vida, quando tive de reunir todas as minhas forças para vencer um novo, e muito duro, desafio pessoal.


Felizmente ergui a cabeça e consegui erguer o corpo caído na imensa tristeza que foram esses cinco anos da minha existência - e felizmente, reitero, continuo de pé, apesar dos pesares, das dores e das memórias, boas e más, dos tempos passados. Mas não é assim com toda a gente. Todos os dias há pessoas que decidem pôr termo à vida. Aconteceu, por estes dias, com uma amiga de alguns amigos. Mesmo sem conhecer esta mulher, da minha idade e com uma vida aparentemente normal, seja isso o que for, senti uma enorme tristeza e uma grande frustração. Por saber, ou recordar, que todos os dias há pessoas que perdem a vontade de viver, e que decidem partir. E por perceber, uma vez mais, que quase sempre essas pessoas consumam o seu acto desesperado sem emitir um sinal de alerta, sem pedir ajuda, sem dar aos outros a oportunidade de lhes mostrarem que vale a pena estar vivo, mesmo que tudo doa cá dentro...


Tenho, como disse, profundo respeito por todas as pessoas que chamam a morte como forma de fugir ao tormento que sentem por estarem vivas. Lamento profundamente não poder, não ter os meios, a oportunidade ou a sabedoria de ajudar cada uma dessas pessoas nesse momento tão duro, tão cruel e solitário. Lamento profundamente a vida perdida, a esperança traída, as certezas erradas de que a morte trará algo melhor do que a vida. E lamento a dor dos que ficam. Dos pais que perdem filhos, dos filhos que perdem pais, dos irmãos, dos amigos que assim se desencontram para sempre. Lamento muito.


E nesta angústia de não poder fazer mais, faço o pouco de que me sinto capaz neste momento - lanço um apelo: peçam ajuda! Não se entreguem à dor! Lutem, por todos os meios, com todas as forças, com todas as mãos que puderem chamar a resgatar-vos dessa existência aparentemente vazia! Peçam às pessoas que vos cercam abraços. Peçam ouvidos emprestados, peçam mãos que esbofeteiem a tentação de desistir! Não desistam! A recuperação é possível. Peçam ajuda! Por favor. Não deixem morrer a vontade de viver. Há sempre alguém disponível. Há sempre uma resposta possível. Há sempre uma mão estendida, um olhar atento e uma palavra doce mas poderosa. Sempre.

 
 
 

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