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Tenho pensado na morte...

  • Foto do escritor: Carla Teixeira
    Carla Teixeira
  • 30 de ago. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 15 de fev. de 2021

No fatídico dia 19 de Março de 2012, o Anjo da Morte roubou-me o pai. Repentinamente, ele que era a pessoa aparentemente mais saudável que até então conhecera, sucumbia perante uma doença genética de que, creio, nunca soube ser portador. A morte levou-o e mergulhou num mar negro de dor e de revolta toda a família.


Poucos dias depois, a morte vestiu-se de cancro e levou a tia que toda a gente quer ter e que eu tive a sorte de ter para mim. Era um ser de luz, de graça, de generosidade e sorriso, sempre de mão estendida e olhar atento para ajudar quem precisasse, nem que fosse apenas de uma palavra. E se novo as trevas apertaram o cerco aos que mais amo.

Anos antes, sem que nada o fizesse prever, um colega de trabalho escolheu atirar-se da Ponte de D. Luís e partir para sempre dessa terra de desespero em que, sem que desconfiássemos, vivia. Tinha pouco mais de 20 anos e a vida toda pela frente, e ao que consta quis morrer porque a namorada o deixou. Teria tanto tempo e tantas namoradas para conhecer ainda…


Há dias, um colega de escola de uma das minhas irmãs, jovem na casa dos 30 anos, encontrou a morte quando saiu do automóvel para acudir as vítimas de um acidente de viação e foi ele próprio colhido por outro carro que viajava na mesma estrada.


Uma amiga de outra minha irmã, ainda mais jovem, luta pela vida frente a um cancro que, todos sabemos, é um gajo medonho, insuportável, mais negro do que a pura escuridão. Que dizer disto também?


Hoje soube que um amigo de um amigo perdeu a mulher em circunstâncias trágicas, e que o filho está preso a uma cama de hospital a tentar sobreviver. O pai tenta agarrar-se a tudo o que se esfuma à sua volta para tentar não enlouquecer diante do que este dia lhe reservou, que para sempre transformará a sua existência.


Serão muitos os episódios como este. A morte vigia-nos de perto, a todo o momento. Somos frágeis como nunca sabemos ser enquanto nos sentimos fortes e saudáveis, mas de um dia para o outro, num instante apenas, tudo muda para sempre. Um momento só. Um piscar de olhos que altera tudo. De repente, sem aviso. Que nos lança num abismo de incomensurável negritude. Que nos consome toda a energia, que nos tira tudo o que temos, tudo o que somos. Num momento.


Tenho pensado muito na morte. Não que a sinta especialmente mais próxima, felizmente. Mas porque não posso esquecer que ela anda por aí, atenta e dissimulada, à espera de um rasgo de oportunidade. De um instante apenas.


A todos os que por estes dias foram colhidos nesta torrente de dor e de desespero, a minha solidariedade. Aos que foram forçados a dizer adeus a quem amam, a minha mensagem de força, de coragem. Vão precisar de ser fortes. Vão ter de se agarrar às memórias, aos sorrisos partilhados, às gargalhadas que ficaram lá atrás.


Peguem nesses momentos, guardem-nos bem no fundo da vossa alma! Um dia vão redescobrir, nessas memórias, o vosso sorriso. Esperem e confiem. E se precisarem de alguém, eu estou aqui.



 
 
 

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© 2014 by Carla Teixeira.

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